PREÂMBULO

Deus quis fazer de Sintra um verdadeiro paraíso enquanto o homem parece empenhado em transformá-lo num inferno. À magia, ao misticismo, ao mistério, ao romantismo e à história gloriosa de Sintra contrapõe-se actualmente a incompetência, o desinteresse, o desleixo, o desrespeito, a ganância e o oportunismo de quem tem por missão defender esta terra única e maravilhosa que Lorde Byron um dia designou como um Éden Glorioso. Celebrada por grandes vultos da cultura mundial do passado, Sintra não pode ser agora desrespeitada pelos medíocres. O futuro de Sintra só pode ser projectado com um total e rigoroso respeito pelo seu passado e pelas sua características únicas. Sintra não é uma terra qualquer e por isso mesmo não pode ser governado por uma gente qualquer. Só os sintrenses por nascimento ou por adopção, podem defender convenientemente este pedaço de paraíso que Deus nos concedeu. Para servir Sintra é preciso amá-la, senti-la, e quem melhor que os sintrenses para o fazer?

A ruína alastra um pouco por toda a parte, as fontes calaram-se e já não nos embalam com o seu canto refrescante. É imperioso reverter esta situação. Eu sei que há sintrenses bem mais competentes do que eu para lutar por Sintra. Há muito que venho lutando dentro das fracas possibilidades de que disponho, mas nem a modéstia dos meus argumentos nem o brilhantismo dos argumentos de quem sabe e pode mais do que eu, têm merecido a atenção dos responsáveis autárquicos competentes. Só nos resta continuar fazer ouvir a nossa voz, os nossos protestos e a s nossas sugestões. Todos não somos demais para defender a nossa SINTRA.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

UMA SINTRENSE PREOCUPADA E INTERVENTIVA

                                          
“Ex. Sr.
Por ter nascido na vila velha em Sintra há 64 anos e porque toda a vida aqui vivi tenho pena que a minha terra não seja bem aproveitada para o turismo, visto que quase não há moradores. Tenho muita pena que o Sr. Presidente da Câmara não olhe para isto. O senhor não faz ideia das pessoas que não vêm a Sintra almoçar só porque não têm onde estacionar e também o número de pessoas que chegam aqui e se vão embora. É preciso pensar nisto. O Sr. Presidente deve pensar nesta realidade. O Sr. Presidente deve fazer ideia disto que está a acontecer mas pelos vistos não está preocupado nem interessado Vi o artigo Foto-Comentário e resolvi enviar umas fotografias tiradas por mim

Com os meus cumprimentos

(Carta assinada por uma leitora identificada)

Recebi recentemente esta carta que me foi endereçada por uma leitora do nosso jornal, carta essa que apesar de eu não a subscrever na sua totalidade por ter uma visão um pouco diferente das soluções que a leitora preconiza para Sintra resolvi publicá-la, devidamente autorizado pela autora. A carta veio acompanhada por algumas fotografias de edifícios deteriorados ou recentemente recuperados mas ainda sem utilização e com as sugestões que a nossa leitora advoga para um aproveitamento futuro de cada um desses edifícios. Com a publicação desta carta pretendo apenas incentivar os nossos leitores e os sintrenses em geral para, com as suas ideias, tentarem ajudar os nossos autarcas a estarem mais atento aos problemas da nossa terra e mais activos e diligentes na sua rápida resolução. Isto porque todos não somos demais para defender Sintra.

Sinceramente, não acredito que o Sr. Presidente da Câmara conheça os problemas que afligem a nossa terra e não esteja preocupado nem interessado em solucioná-los. A nossa leitora é natural de Sintra, na Vila Velha, ama a terra onde nasceu e decidiu não ficar calada e quieta no seu cantinho, acomodada e sem nada fazer. Achou que tinha o dever cívico de intervir e divulgar as suas opiniões. Resolveu fazê-lo publicamente através do nosso jornal e não seremos nós que lhe iremos negar esse direito mesmo que tenhamos algumas divergências de opinião. É de louvar que os sintrenses sejam críticos, participativos e imaginativos em tudo o que refere à sua terra sempre numa perspectiva construtiva com a intenção de fazer de Sintra uma terra cada vez mais bonita, mais limpa e ainda mais atractiva. Nem sempre teremos razão nas nossas criticas nem nas soluções que preconizamos mas fazemo-lo de boa-fé sem qualquer outra intenção que não seja tentarmos contribuir construtivamente para identificar e ajudar a solucionar os problemas que desprestigiam Sintra, prejudicam os seus habitantes e contribuem para dar aos visitantes uma imagem negativa da nossa terra. Chama-se a isto exercício de cidadania e é apenas nesta prespectiva que as críticas devem ser entendidas. É assim que deve ser encarada também a carta desta nossa leitora. E nada mais do que isso.

Para o antigo hotel Netto que se encontra num inconcebível estado de degradação e abandono em pleno centro histórico, paredes meias com o palácio nacional. a nossa leitora sugere que seja aproveitado para construir ali um espaço para estacionamento de automóveis nos cinco pisos de que dispõe.. Pessoalmente discordo desta solução, primeiro porque existe um projecto para a requalificação deste edifício histórico para o transformar num hostel vocacionado principalmente à juventude e em segundo lugar porque esse edifício não tem as menores condições para essa utilização e a ideia que existe é de no futuro limitar o acesso de veículos automóveis ao centro histórico de Sintra. A PSML já tinha acordado a compra do edifício com os proprietários, tinha assegurado o financiamento para a concretização da obra quando o actual executivo camarário inviabilizou o negócio exercendo o direito de opção que detinha na compra do antigo hotel. O resultado está à vista, passou um ano e tudo continua na mesma. Com a PSML de certeza que as obras de requalificação estariam já bem adiantadas. Até quando aquela mancha irá continuar a “emporcalhar” o centro histórico de Sintra?

A nossa leitora identificou ainda o antigo hospital de Sintra antiga casa de protecção às raparigas no Arrabalde. o antigo Sintra-Cinema, a lixeira em que se tornou o Vale da Raposa junto à muralha da Correnteza, e os edifícios em ruínas no antigo Casal Amélia na Portela de Sintra. Poderia falar de muitos mais casos análogos que se encontram um pouco por toda a vila de Sintra que são provas evidentes da situação de desleixo em que Sintra se deixou cair para desprestigio da nossa terra e vergonha de todos nós.
Esta carta serve de preâmbulo para o próximo Foto-Comentário em que irei abordar precisamente esta cultura do desleixo que se instalou há muitos anos em Sintra perante a passividade da autarquia e desinteresse de muitos dos proprietários do património edificado e florestal sintrense. É um tema que dá pano para mangas sobre o qual me debruçarei em breve.


Guilherme Duarte


(Artigo publicado no nº 125 do jornal Cruz Alta, referente ao mês de Maio de 2015)