“Ex.
Sr.
Por
ter nascido na vila velha em Sintra há 64 anos e porque toda a vida aqui vivi
tenho pena que a minha terra não seja bem aproveitada para o turismo, visto que
quase não há moradores. Tenho muita pena que o Sr. Presidente da Câmara não
olhe para isto. O senhor não faz ideia das pessoas que não vêm a Sintra almoçar
só porque não têm onde estacionar e também o número de pessoas que chegam aqui
e se vão embora. É preciso pensar nisto. O Sr. Presidente deve pensar nesta
realidade. O Sr. Presidente deve fazer ideia disto que está a acontecer mas
pelos vistos não está preocupado nem interessado Vi o artigo Foto-Comentário e
resolvi enviar umas fotografias tiradas por mim
Com
os meus cumprimentos
(Carta
assinada por uma leitora identificada)
Recebi recentemente esta
carta que me foi endereçada por uma leitora do nosso jornal, carta essa que apesar
de eu não a subscrever na sua totalidade por ter uma visão um pouco diferente
das soluções que a leitora preconiza para Sintra resolvi publicá-la,
devidamente autorizado pela autora. A carta veio acompanhada por algumas
fotografias de edifícios deteriorados ou recentemente recuperados mas ainda sem
utilização e com as sugestões que a nossa leitora advoga para um aproveitamento
futuro de cada um desses edifícios. Com a publicação desta carta pretendo
apenas incentivar os nossos leitores e os sintrenses em geral para, com as suas
ideias, tentarem ajudar os nossos autarcas a estarem mais atento aos problemas
da nossa terra e mais activos e diligentes na sua rápida resolução. Isto porque
todos não somos demais para defender Sintra.
Sinceramente, não acredito
que o Sr. Presidente da Câmara conheça os problemas que afligem a nossa terra e
não esteja preocupado nem interessado em solucioná-los. A nossa leitora é
natural de Sintra, na Vila Velha, ama a terra onde nasceu e decidiu não ficar
calada e quieta no seu cantinho, acomodada e sem nada fazer. Achou que tinha o
dever cívico de intervir e divulgar as suas opiniões. Resolveu fazê-lo publicamente
através do nosso jornal e não seremos nós que lhe iremos negar esse direito
mesmo que tenhamos algumas divergências de opinião. É de louvar que os
sintrenses sejam críticos, participativos e imaginativos em tudo o que refere à
sua terra sempre numa perspectiva construtiva com a intenção de fazer de Sintra
uma terra cada vez mais bonita, mais limpa e ainda mais atractiva. Nem sempre teremos
razão nas nossas criticas nem nas soluções que preconizamos mas fazemo-lo de
boa-fé sem qualquer outra intenção que não seja tentarmos contribuir
construtivamente para identificar e ajudar a solucionar os problemas que
desprestigiam Sintra, prejudicam os seus habitantes e contribuem para dar aos
visitantes uma imagem negativa da nossa terra. Chama-se a isto exercício de
cidadania e é apenas nesta prespectiva que as críticas devem ser entendidas. É
assim que deve ser encarada também a carta desta nossa leitora. E nada mais do
que isso.
Para o antigo hotel Netto
que se encontra num inconcebível estado de degradação e abandono em pleno
centro histórico, paredes meias com o palácio nacional. a nossa leitora sugere que
seja aproveitado para construir ali um espaço para estacionamento de automóveis
nos cinco pisos de que dispõe.. Pessoalmente discordo desta solução, primeiro
porque existe um projecto para a requalificação deste edifício histórico para o
transformar num hostel vocacionado principalmente à juventude e em segundo
lugar porque esse edifício não tem as menores condições para essa utilização e
a ideia que existe é de no futuro limitar o acesso de veículos automóveis ao
centro histórico de Sintra. A PSML já tinha acordado a compra do edifício com
os proprietários, tinha assegurado o financiamento para a concretização da obra
quando o actual executivo camarário inviabilizou o negócio exercendo o direito
de opção que detinha na compra do antigo hotel. O resultado está à vista,
passou um ano e tudo continua na mesma. Com a PSML de certeza que as obras de
requalificação estariam já bem adiantadas. Até quando aquela mancha irá
continuar a “emporcalhar” o centro histórico de Sintra?
A nossa leitora identificou
ainda o antigo hospital de Sintra antiga casa de protecção às raparigas no
Arrabalde. o antigo Sintra-Cinema, a lixeira em que se tornou o Vale da Raposa
junto à muralha da Correnteza, e os edifícios em ruínas no antigo Casal Amélia
na Portela de Sintra. Poderia falar de muitos mais casos análogos que se
encontram um pouco por toda a vila de Sintra que são provas evidentes da
situação de desleixo em que Sintra se deixou cair para desprestigio da nossa
terra e vergonha de todos nós.
Esta carta serve de
preâmbulo para o próximo Foto-Comentário em que irei abordar precisamente esta
cultura do desleixo que se instalou há muitos anos em Sintra perante a
passividade da autarquia e desinteresse de muitos dos proprietários do
património edificado e florestal sintrense. É um tema que dá pano para mangas
sobre o qual me debruçarei em breve.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no nº 125 do jornal Cruz Alta, referente ao mês de Maio de 2015)