Sintra tem o condão de
encantar e despertar paixões não só a quem cá nasceu ou a quem a escolheu para
habitar mas também a todos que a visitam. A magia e o mistério que estão
presentes em cada recanto deste verdadeiro paraíso com que Deus presenteou este
cantinho de Portugal não deixam ninguém indiferente. São inúmeros os
testemunhos de grandes vultos da cultura mundial que ao longo dos séculos visitaram
esta terra de sonho e fizeram questão de manifestar publicamente todo o
encantamento que aqui encontraram.
Obra de Deus, que o homem
mais tarde enriqueceu com a sua arte e criatividade, Sintra tornou-se num dos
lugares mais fascinantes e encantadores do mundo. Infelizmente o homem que no
passado teve a arte e o engenho para valorizar ainda mais a beleza natural de
Sintra tornando-a ainda mais bonita e atractiva, actualmente parece estar mais
interessado em destruí-la. Há demasiadas pessoas que não parecem estar muito interessados
em respeitar a sua história e a especificidade muito própria desta terra. Há vários
interesses direccionados para Sintra mas que em pouco ou nada têm a ver com os
interesses de Sintra que lamentavelmente há muito que tem vindo a ser demasiado
maltratada por quem tem a obrigação de a defender e preparar o futuro com total
respeito pelo passado. Há uma cultura de desleixo que se foi instalando com o
decorrer dos anos com os resultados que se conhecem. Os atentados urbanísticos fizeram
nascer e crescer bairros gigantescos onde a qualidade de vida dos moradores
está muito aquém daquilo que seria exigível. Aconselho a quem tem fotografias
antigas tiradas do alto da serra sobre a vastidão da planície verde que se
estendia a seus pés e as compare com fotografias actuais tiradas agora do mesmo
local com a mesma perspectiva vejam a
diferença. Chega a ser assustador. Há ruínas um pouco por toda a Sintra.
Edifícios e quintas abandonadas são nódoas que mancham a nossa terra. O
comércio é incipiente e pouco ou nada apelativo para os clientes e estas são
apenas algumas das chagas que desprestigiam a terra que em tempos Lorde Byron classificou
como “A Glourious Eden”.
Se é verdade que Sintra tem
sido bastante maltratada por quem teve, e tem, a obrigação de a defender também
verdade que nem todos os sintrenses estimam a sua terra como têm a obrigação de
o fazer. Felizmente que há ainda muita gente que ama esta terra mágica, que
cultiva a paixão por ela e que tudo faz para a defender do desleixo que a
invadiu, do desrespeito pela sua história, pela sua incomparável beleza e pela
descaracterização de um pedaço de paraíso que a Unesco classificou como
património mundial da humanidade, uma distinção que em vez de encher de orgulho
todos os sintrenses parece que alguns a consideram como um empecilho à concretização
de alguns projectos polémicos que poderão ser do interesse de alguns mas que
não serão certamente do interesse de Sintra.Não foi no entanto para
falar do passado que me decidi a escrever este artigo, mas sim para falar do
futuro e enaltecer o sentido cívico de tantos sintrenses que não desistem de
lutar pela defesa da sua terra ou da terra que escolheram para morar,
particularmente para saudar uma nova associação que foi criada recentemente
para colaborar com a autarquia na procura de soluções viáveis e indispensáveis
para a eliminação dos males de que Sintra enferma e sugerir medidas para que
esta terra paradisíaca não se transforme num verdadeiro inferno como por vezes
já acontece. Saudamos com entusiasmo a criação da CANAFERRIM - Associação
Cívica e Cultural e aplaudimos o notável trabalho já feito em tão pouco espaço
de tempo. São grandes os desafios que este grupo de sintrenses tem pela frente
mas conhecendo como conheço a maioria dos seus membros e a paixão que têm por
Sintra não tenho a menor dúvida que do seu trabalho algo de
muito útil resultará para resolver muitos dos problemas da nossa terra. Assim
os responsáveis autárquicos os saibam ouvir e tenham a humildade de reconhecer e
aceitar as propostas válidas e exequíveis que eles certamente apresentarão.
Conheço alguns dos problemas que têm entre mãos, conheço as soluções que
preconizam e sei que Sintra só terá a lucrar se elas forem ouvidas, estudadas e
adoptadas. Infelizmente não será um trabalho fácil que produza resultados
imediatos. Costuma dizer-se que Roma e Pavia não se fizeram num dia. Temos que
ser pacientes porque a maioria dos casos em estudo, são complexos e não se
resolvem com uma varinha do condão, mas com muito trabalho, muita competência e
muita persistência também. Já se perdeu tempo de mais mas disso a CANAFERRIM
não tem culpa absolutamente nenhuma.
Recentemente voltou a
falar-se da construção de um teleférico em Sintra. Desde garoto que ouço falar
desse teleférico ideia que o Jornal de Sintra pela pena de António Medina
Júnior quando em vez recuperava mas creio que nunca ninguém levou muito a sério
a viabilidade da sua construção. Alguém se lembrou dele agora de novo e ao que
li, se é que entendi bem, até já existe quem esteja disposto a financiar a
obra. A Canaferrim, pelo contrário, defende outra solução, a construção de um
funicular que faça a ligação entre um parque de estacionamento no Ramalhão e o
alto da serra de onde, por motivos ambientais, se pretende retirar o trânsito
automóvel. Este é um dos muitos assuntos
que a Canaferrim tem entre mãos e tenho total confiança no trabalho e na
competência das pessoas que integram esta associação. Sintra precisa de pessoas
assim.
Guilherme Duarte
(Publicado na edição de Fevº de 2015 do jornal "Cruz Alta")
Sem comentários:
Enviar um comentário