PREÂMBULO

Deus quis fazer de Sintra um verdadeiro paraíso enquanto o homem parece empenhado em transformá-lo num inferno. À magia, ao misticismo, ao mistério, ao romantismo e à história gloriosa de Sintra contrapõe-se actualmente a incompetência, o desinteresse, o desleixo, o desrespeito, a ganância e o oportunismo de quem tem por missão defender esta terra única e maravilhosa que Lorde Byron um dia designou como um Éden Glorioso. Celebrada por grandes vultos da cultura mundial do passado, Sintra não pode ser agora desrespeitada pelos medíocres. O futuro de Sintra só pode ser projectado com um total e rigoroso respeito pelo seu passado e pelas sua características únicas. Sintra não é uma terra qualquer e por isso mesmo não pode ser governado por uma gente qualquer. Só os sintrenses por nascimento ou por adopção, podem defender convenientemente este pedaço de paraíso que Deus nos concedeu. Para servir Sintra é preciso amá-la, senti-la, e quem melhor que os sintrenses para o fazer?

A ruína alastra um pouco por toda a parte, as fontes calaram-se e já não nos embalam com o seu canto refrescante. É imperioso reverter esta situação. Eu sei que há sintrenses bem mais competentes do que eu para lutar por Sintra. Há muito que venho lutando dentro das fracas possibilidades de que disponho, mas nem a modéstia dos meus argumentos nem o brilhantismo dos argumentos de quem sabe e pode mais do que eu, têm merecido a atenção dos responsáveis autárquicos competentes. Só nos resta continuar fazer ouvir a nossa voz, os nossos protestos e a s nossas sugestões. Todos não somos demais para defender a nossa SINTRA.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O BAIRRO DA ESTEFÂNIA

              
HÁ MEIO SÉCULO ATRÁS

“Sintra – A Sala de Visitas de Portugal”. Era assim, com esta frase, que, há meio século atrás, a antiga Comissão de Turismo de Sintra promovia, nacional e internacionalmente, a nossa terra como destino turístico de excelência. Sintra era nesse tempo, tal como é ainda hoje, um destino de eleição, quer para o turista estrangeiro que nos visita, quer para o português que gosta de viajar no seu país. Sintra era, e é inquestionavelmente, a mais bela sala de visitas de Portugal. Mas os tempos mudam, mudam as vontades e consequentemente mudam também as realidades, e nem sempre essa mudança é benéfica. Em Sintra não o foi…infelizmente. 

O que foi então que mudou em Sintra? Que diferença existe entre a Sintra de há 50 anos atrás e a Sintra dos nossos dias? A sala de visitas? Claro que não, porque essa continua a ser linda, embora a “mobília” apresente já graves sinais de degradação provocada pelo tempo e pelo desleixo. O que mudou então? Mudou a antecamera que, antigamente, sem o luxo da sala de visitas, mas com sobriedade e a dignidade que a magnificência do salão principal obrigava,  era uma entrada simpática onde os visitantes eram recebidos com fidalguia antes de se lhes escancarar as portas para o deslumbramento. Bairro simples, sem monumentos e sem o passado histórico da Vila Velha, o Bairro da Estefânia, de edificação mais recente, encantava pela beleza de algumas das suas moradias e palacetes e pelos pequenos prédios de arquitectura singela mas harmoniosa, então cuidadosamente limpos e bem conservados, Era agradável ver os pequenos parques e jardins, também eles bem cuidados, e os gradeamentos de ferro que ali abundavam e que lhe eram característicos. Os eléctricos a “chiar” nos carris e as fumegantes locomotivas a vapor, a fumegar, atreladas às velhinhas carruagens do princípio do século passado emprestavam-lhe tipicismo e colorido. A Estefânia nessa época tinha côr, tinha vida, tinha encanto e fazia sentir já, por antecipação, aquele romantismo que ao longo de séculos tem inspirado tantos poetas, romancistas, músicos e pintores.

 A grandiosidade do Monte da Lua coroado, lá bem no alto, pelas muralhas do castelo, o Paço Real ali a dois passos, encimado pelas chaminés gigantescas a imporem-se ao casario do velho burgo e o cenário luxuriante do Vale da Raposa, contribuíam para oferecer ao turista, logo à entrada, o clima romântico que ele aqui procurava e eram decisivos para fazer da Estefânia dessa época, uma digna antecâmera de uma esplêndida e luxuosa sala de visitas. Mas se a serra, o palácio e o Vale da Raposa ainda lá estão práticamente inalteráveis porque é que a antecamera perdeu a dignidade? Respondo com outra pergunta, será que uma sala mesmo que ostente nas suas paredes belos quadros, se tiver a mobília a cair aos bocados consegue fascinar alguém? Penso que não.  

50 ANOS DEPOIS

Hoje o Bairro da Estefânia está longe do esplendor do passado. Em nome do progresso fizeram-se alterações que, longe de o beneficiar, contribuíram antes para a sua descaracterização. Destruiu-se a pequena rotunda que existia no Largo Afonso de Albuquerque onde se destacava um interessante candeeiro da época; foi destruído ainda um outro espaço ajardinado que dividia as duas faixas de rodagem entre o Largo e a Correnteza, onde estava instalado o chafariz dos peixes, hoje colocado junto do edifício da PT. Os gradeamentos e jardins desapareceram, os edifícios deterioraram-se, as lojas encerraram, o eléctrico deixou de circular e a Correnteza ficou menos atractiva sem muitos dos bancos que ali havia, sem os  arcos de ferro e sem as roseiras que os enfeitavam. Hoje a Estefânia está muito longe de ser aquela antecâmera digna da mais bela sala de visitas de Portugal, para ser apenas um bairro decadente, em ruínas, feio e sujo, que decepciona o turista mais tolerante e envergonha os sintrenses que nada podem fazer para inverter esta situação. Mas será que não podem mesmo?
Quem entrar hoje em Sintra pela porta da Estefânia certamente que se sentirá  desiludido e frustrado, senão mesmo arrependido por aqui ter vindo, ao deparar com tanto desleixo e tanta degradação. É compreensível que, após as primeiras impressões, receie ter sido enganado pela propaganda turística que lhe fez crer que Sintra seria um dos mais belos locais do mundo, e afinal não passa de uma vila decadente e arruinada. Esta é de certeza a primeira impressão que Sintra causa ao visitante, e acreditem que as primeiras impressões são importantíssimas porque preparam o estado de espírito com que ele irá encarar o que vem a seguir. Infelizmente em Sintra a margem de tolerância esgota-se logo à entrada.  A Estefânia, tal como está é uma verdadeira vergonha que desprestigia os autarcas, os proprietários dos imóveis e os sintrenses.

Uma requalificação falhada na sua primeira fase, uma segunda fase mais conseguida, um ou outro prédio recuperado é tudo aquilo que até agora tem sido feito para inverter a situação. É pouco, muito pouco. É urgente uma intervenção de fundo em toda esta zona, modernizando-a sem a descaracterizar. É imperioso recuperar todos os edifícios deteriorados, revitalizar e modernizar o comércio, levar de novo o eléctrico até à estação da CP, ou mesmo à Vila Velha, porque não? É urgente a construção de um grande parque subterrâneo na Portela de Sintra, com ligação inferior à Estefânia e repensar um novo figurino para a Heliodoro Salgado, que,na minha opinião, se deve manter como zona pedonal atravessada apenas pela linha do eléctrico. Já pensaram como seria muito mais fácil retirar uma boa parte do trânsito da Vila Velha se os visitantes que estacionassem na Portela tivessem um acesso fácil ao eléctrico que os levasse até ao Centro Histórico?

O Bairro da Estefânia não pode esperar mais tempo para recuperar a beleza de outrora. É verdade que os tempos são outros e as realidades também o são e é impensável que tudo volte a ser igual ao que já foi. O que se pretende agora é que se devolva a esta zona a dignidade que já teve, e torná-la numa antecâmera decente de uma sala de visitas que, apesar de tudo, continua muito bela. Senhores autarcas e senhores proprietários sentem-se e conversem. Conjuguem esforços para encontrar uma solução aceitável para todos, é que, acreditem, é possível fazerem-se negócios lucrativos para ambas as partes, desde que uma delas não queira o lucro todo para si. Trata-se de um assunto de inegável interesse público e há certamente meios legais ao dispor da autarquia para promover a recuperação dos edifícios em ruínas. Mas era mais bonito que as obras fossem feitas de comum acordo. Que fique claro que não estou a sugerir a espolição do património aos seus legítimos donos, mas a apelar ao diálogo e à conjugação de vontades para que seja encontrada rapidamente uma solução para terminar de vez com a vergonha em que a Estefânia se transformou. Todos teremos a ganhar com isso…até os proprietários. Ou será que terá passado pela cabeça de alguém a ideia de inundar a Estefânia com betão? É verdade que já aqui se fez muito disparate, mas não acredito que se chegue a tanto.   
Permitam-me que faça duas perguntas muito directas: senhores autarcas estão satisfeitos com  o actual estado da Estefânia? E os senhores proprietários, gostam de ver o vosso património em ruínas a desprestigiar-vos e a envergonhar a nossa terra? Acredito que não gostem. Então porque esperam? Sentem-se á mesa, discutam, mas cheguem a um entendimento rápido, que seja do agrado de todas as partes e que beneficie Sintra. Afinal é isso que todos nós queremos… ou não é?


Guilherme Duarte

(Artigo publicado há tempos no jornal Cruz Alta mas que infelizmente se mantém actual). 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A AV.ª HELIODORO SALGADO UMA VEZ MAIS

A Av.ª Heliodoro Salgado, na Estefânia, tem sido na última década e meia um dos maiores motivos de polémica da vila de Sintra. A transformação de um troço dessa avenida numa zona exclusivamente pedonal dividiu a opinião pública e provocou o descontentamento da maior parte dos comerciantes estabelecidos nessa rua. Confesso que eu fui um dos que aplaudiu essa decisão. Sou um adepto de ruas destinadas apenas aos peões onde estes possam circular tranquilamente sem o incómodo do trânsito rodoviário, sem preocupações de segurança e sem o perigo de um possível atropelamento. Por norma essas ruas são benéficas para o comércio e oferecem paralelamente agradáveis locais de lazer com as esplanadas que existem em quase todas elas. Não havia motivo para pensar que em Sintra seria diferente. Terá sido essa a ideia do executivo camarário da altura, que chegou mesmo a anunciar a intenção de transformar essa via num centro comercial ao ar livre. Pensaram os edis sintrenses, pensei eu e pensaram também muitos sintrenses, mas pensámos mal. A verdade é que o comércio na Heliodoro Salgado ao longo destes anos foi definhando, os estabelecimentos foram fechando as portas e não fora as lojas dos chineses que por ali abundam actualmente e mais de metade deles estariam hoje encerrados.

Ao longo destes últimos anos o descontentamento da população em relação à zona pedonal tem vindo a crescer à medida que os acidentes e os sobressaltos se têm vindo a acumular. A situação é grave e merece ser analisada quer para detectar os motivos que estão na origem do fracasso desta iniciativa quer para estudar soluções que dinamizem essa zona e tornando-la mais segura e mais apetecível. Segundo julgo saber existe, ou existiu recentemente, uma comissão constituída por pessoas competentes e habilitadas para proceder a esse estudo. Esperemos que apresentadas as conclusões desse trabalho não sejam pura e simplesmente ignoradas por quem tem o poder de decisão como tantas vezes acontece com os trabalhos apresentados por este tipo de comissões nas mais variadas áreas.

Recentemente esta polémica intensificou-se e voltou a estar na ordem do dia depois do atropelamento de um peão que por ali circulava e que, pela informação que tenho, necessitou de receber cuidados hospitalares. Há muito que se adivinhava que mais tarde ou mais cedo algo de grave ali poderia vir a acontecer. Já por várias vezes denunciei aqui a permissividade das autoridades perante os abusos de alguns, (demasiados), condutores que por ali circulam indevidamente e transformam aquela artéria num parque de estacionamento automóvel. Como consequência deste movimento quase constante de automóveis em plena zona pedonal o piso tem-se vindo a deteriorar. As lajes de granito que pavimentam a rua estão muitas delas partidas ou soltas e têm sido as causadores de inúmeras quedas de pessoas que por ali circulam, principalmente as pessoas mais idosas. 

É urgente repensar que futuro se pretende para a Av.ª Heliodoro Salgado. Se a intenção for a de a manter como uma área pedonal então que ela seja exclusivamente destinada ao usufruto dos peões e se retire de uma vez por todas todos os veículos que por ali circulam e estacionam impunemente. A segurança das pessoas deve ser uma prioridade.

Guilherme Duarte

(Texto publicado no jornal Cruz Alta há poucos meses)

domingo, 11 de janeiro de 2015

UMA MEDALHA RARA DE SANTA EUFÉMIA DA SERRA


SINTRA, "A GLORIOUS EDEN"


No silêncio dos bosques procuro a paz.
Revejo-me na limpidez cristalina da água do lago.
Prende-se-me o olhar na imponência e elegância dos cisnes ,
E na suavidade com que deslizam
Na quietude das águas mansas.

Encho os pulmões com o ar leve e puro
Que se respira no alto da serra,
Enquanto descanso à sombra fresca
De um castanheiro centenário.
Deixo-me embalar pelo canto da água
A brotar das fontes,
Pelo rumorejar da folhagem
E pelos trinados alegres que a passarada
Solta nos ares.
Recordo o passado, ao ouvir o som indiscreto
De um beijo trocado num canto escondido,
E deixo que os raios de sol,
A dardejar por entre a ramagem,
Me beijem o corpo.

A espiritualidade que se respira no alto do monte,  
Com a cruz erguida a apontar ao céu,
Convida a olhar para as alturas e falar com Deus.
Parece-me ouvir o som suave das harpas
E do canto dos anjos, a descer até mim,
Nos braços do vento forte
Que me fustiga o rosto.

No ponto supremo da serra mítica,
Unem-se, a lua e o monte,
Num casamento que resulta em magia.
Aquela magia que todos sentimos
Em cada recanto da nossa serra,
E que faz de Sintra
Um Paraíso na terra..  



Guilherme Duarte

sábado, 3 de janeiro de 2015

A EMPRESA PARQUES DE SINTRA – MONTE DA LUA NÃO DESCANSA




Recentemente li uma notícia que dava conta da compra do antigo hotel Neto pela PSML com o objectivo de o recuperar e transformar num hostel. Como sintrense que sou regozijei-me com a boa nova. Finalmente aquela nódoa que envergonha Sintra ali mesmo no coração do centro histórico, paredes meias com o palácio nacional, iria finalmente desaparecer para dar lugar a um edifício recuperado.

Antes de escrever este artigo e para não correr o risco de veicular uma notícia que poderia não corresponder á verdade contactei os PSML para confirmar essa excelente notícia. Em boa hora o fiz porque a realidade neste momento não é bem aquela que me tinha chegado ao conhecimento. É verdade que existe a intenção por parte da administração da PSML em adquirir esse imóvel mas neste momento está ainda em curso o processo de autorização e de negociação para que o negócio se concretize. Ainda não é um dado adquirido a compra do antigo hotel Neto pela PSML, mas esperemos que a burocracia infernal que está enraizada nos hábitos deste país não venha inviabilizar esta compra importantíssima para Sintra e se torne responsável pela continuação da situação vergonhosa em que se encontra, há várias décadas, o antigo hotel Neto.

Tiro daqui o meu chapéu à administração da empresa Parques de Sintra Monte da Lua por esta iniciativa e pelo magnífico trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo dos anos em todo o património que está sob a sua responsabilidade. Era impossível fazer melhor.

A talhe de foice aconselho os nossos leitores a visitarem os jardins, parques e palácios, o castelo e o convento e se informem de todas as actividades que vão sendo programadas para animação desses espaços enquanto esperamos que a compra e recuperação do hotel Neto se concretize.


Guilherme Duarte

(Artigo publicado no Jornal Cruz Alta há uns mesesatrrás)

O BETÃO ATACA DE NOVO




A invasão do cimento parece querer regressar em força ao nosso concelho e desta vez ameaça mesmo instalar-se às portas de Sintra. Depois de alguns anos em que a construção foi drasticamente reduzida, em parte por decisão da autarquia que pretendeu travar a sua expansão, mas principalmente pela retracção do mercado devido à profunda crise em que este país mergulhou e que afectou sobremaneira o sector da construção civil. Recentemente surgiram notícias que considero inquietantes, que indiciam que algo parece estar a mudar na política de construção adoptada pelo actual executivo camarário. Após ter sido anunciada a construção de um novo centro comercial do Jumbo a escassas centenas de metros do Forum Sintra veio agora a público a existência de um mega projecto que visa construir ali bem perto, na Abrunheira Norte, a Cidade da Sonae que prevê a construção de um outro hipermercado que muito provavelmente estará englobado num outro centro comercial ainda que de dimensões mais reduzidas. Esse projecto, ao que consta, prevê a construção de vários edifícios destinados a acolher empresas, clínicas e serviços vários. Está prevista ainda a construção de um parque temático que se chamará a Sintra dos Pequeninos.

A construção desta Cidade da Sonae está já a ser objecto de forte contestação entre a população sintrense que vê com preocupação as garras do betão a aproximarem-se perigosamente da garganta de Sintra ameaçando sufocá-la. Quando Sintra foi designada como Vila Património Mundial na Categoria de Paisagem Cultural, foi estabelecida, se não estou em erro, a criação de uma zona tampão destinada a impedir o avanço do cimento até à entrada da vila de Sintra. Será que este mega projecto que agora se anuncia respeita os limites e as condições dessa zona tampão?

Não vou tecer neste momento grandes considerações sobre este empreendimento porque desconheço qual a dimensão da área a ocupar e a volumetria dos edifícios a construir mas devo dizer que é com preocupação que, à partida, encaro a construção desta cidade da Sonae numa zona demasiado próxima da entrada mais nobre de Sintra, como se sabe Vila Património Mundial da Humanidade que devia estar protegida contra a invasão do cimento. Todos conhecemos o resultado desastroso da política urbanística seguida por vários executivos camarários ao longo dos anos e os reflexos amplamente negativos que a aprovação de várias urbanizações gigantescas provocaram quer na qualidade de vida dos moradores que para ali foram residir, quer na mobilidade rodoviária quer ainda na deterioração da paisagem. Foram erros graves aqueles que se foram cometendo ao longo dos anos, erros esses que não queremos ver repetidos.

Não me vou alongar mais sobre este tema, neste momento, dada a escassa informação de disponho mas gostaria de sensibilizar os nossos leitores para estarem atentos ao desenvolvimento deste empreendimento e manifestarem junto da autarquia a sua discordância  se não estiverem de acordo com o que se pretende ali fazer.


Guilherme Duarte

(Artigo publicado no nº de Janº 2015 do jornal Cruz  Alta) 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

TRABALHO QUE PUBLIQUEI NO PROGRAMA DAS FESTAS DE NOSSA SENHORA DO CABO EM 2010 NA FREGUESIA DE SANTA MARIA E SÃO MIGUEL


                  BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A FREGUESIA   
                            DE SINTRA (SANTA MARIA E S. MIGUEL)

SINTRA

“A vila de Cintra, na Extremadura, é talvez a mais bela do mundo inteiro.” Esta afirmação de Lord Byron traduz na perfeição a admiração e o encantamento que Sintra lhe provocou. “A glorious eden”, foi assim que o poeta inglês a descreveu aos seus amigos, extasiado que estava com a belezas inigualáveis que Sintra lhe oferecia. Byron, diz-se, não terá sido um exemplo de virtudes, mas era sem dúvida um homem de cultura, viajado, e de refinado bom gosto. Não tinha os portugueses em grande conta, é uma verdade, mas rendeu-se completamente aos encantos de Sintra.  
Mas não foi só Byron a deixar-se arrebatar pelas belezas da nossa terra, muitas outras personalidades importantes da cultura europeia dos séculos XVIII e XIX, que visitaram Sintra, ou aqui residiram, ainda que temporáriamente, também se maravilharam perante o misticismo, a magia, o romantismo, a poesia e os encantos deste pedaço de paraíso, que Deus fez questão criar, neste cantinho do mundo, para assombro e delumbramento dos homens. Eis como alguns deles sentiram Sintra:
Richard Strauss, descobriu-lhe o misticismo:
 “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto, e nunca vi nada, nada, que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor e, lá no alto, está o Castelo do Santo Graal".
E também a magia:
 “O palácio da Pena bate todos os recordes da extravagância. Erguido sobre um rochedo no ponto mais alto da Serra, o edifício, que parece sair direitinho de um conto de fadas, sobressai por entre a verdura com as suas cores vivas de vermelho escarlate e amarelo canário".
Hans Christian Andersen encantou-se com a beleza da paisagem:
«Diz-se que todo o estrangeiro poderá encontrar em Sintra um pedaço da sua pátria. Eu descobri aí a Dinamarca. Mas julguei reencontrar muitos pedaços queridos de outras belas terras...»… Mas «diferente, mais belo e pitoresco» é «o palácio de Verão de D. Fernando». «Todo o caminho da serra é um jardim, onde a natureza e arte maravilhosamente se combinam, o mais belo passeio que se pode imaginar”
Robert Southey, também:
 "Nunca presenciei vista que destruísse tão completamente o desejo de viajar. Se eu tivesse nascido em Sintra, julgo que nada haveria que me tentasse a abandonar as suas sombras deliciosas e a atravessar a terrível aridez que as separa do mundo"
Vergílio Ferreira viveu-lhe o romantismo:
“Sintra é o único lugar do país em que a história se fez jardim”.
E Almeida Garret, a poesia.
 “Aqui a Primavera tem o seu trono” .

A FREGUESIA DE SINTRA (SANTA MARIA E S. MIGUEL)

A HISTÓRIA
Sintra tem atrás de si uma história riquíssima que recua até aos tempos pré-históricos. A serra, só por si uma autêntica fortaleza, atraiu alguns povos primitivos que ali se fixaram, confiantes na segurança que a montanha lhes garantia e seduzidos também pelos bons ares e pela generosidade das terras. O que se julga ser o mais antigo vestígio de ocupação humana em Sintra, foi encontrado na proximidade do Castelo dos Mouros, e trata-se de um Sítio do Neolítico Antigo, calcula-se que com IV a III mil anos AC. Muitos outros vestígios de antigas civilizações têm vindo a ser descobertos em variadíssimos locais como, por exemplo, na Penha Verde ocupada desde o Epipoleolítico até à Idade do Bronze, (1450 anos AC). No Monte Sereno foram encontrados vestígios coevos; em Santa Eufémia, um habitat fortificado da Idade do Ferro e no que é hoje a vila de Sintra, sabe-se que foi ocupada por povos do Neolítico Final e Caleolítico, IV a III mil anos AC. Monumentos funerários do Calcolítico Final e vários thloi têm vindo a ser descobertos, na sua maioria na área da serra e um deles no Vale de S. Martinho. Ao longo dos séculos foram vários os povos e comunidades que por aqui passaram, deixando atrás de si um importante espólio arqueológico que tem vindo a ser descoberto, recolhido e estudado por especialistas. Sabe-se hoje muito da história antiga de Sintra, mas, de certeza, que há ainda muito mais história por descobrir. Da ocupação romana e islâmica, há bastante informação que tem sido largamente divulgada por vários historiadores que se dedicaram, e dedicam, ao estudo de Sintra, mas é da Idade Média, a partir do ocupação cristã em 1147 que realmente começa a história que nos interessa para o desenvolvimente deste pequeno e despretencioso trabalho.  

Não é possível determinar com rigor a data da criação da Freguesia de Sintra (Santa Maria e S. Miguel), mas conhecem-se as suas origens. Sabe-se que depois da rendição de Sintra às tropas cristãs de D. Afonso Henriques este mandou, pouco tempo depois, edificar uma pequena igreja, (a de S. Pedro de Canaferrim), nas proximidades do castelo. Estava criada a primeira paróquia da vila.  Mais tarde, e porque os habitantes de Sintra, passado o perigo de ataques inimigos, sentindo-se mais seguros, começaram a abandonar a protecção das muralhas da fortaleza, e a fixar-se no Arrabalde, onde, pouco tempo depois, foram construidas mais duas igrejas e respectivas paróquias, a de Santa Maria e a de S. Miguel. Foi edificada ainda, nas proximidades do Chão de Oliva, uma outra igreja, a de S. Martinho, e, consequentemente, criada uma outra paróquia, com o mesmo nome. As áreas correspondente às quatro paróquias que então já existiam na vila de Sintra ficaram demarcadas em 1253, pelo  Tratado de Lemite. No que respeita às igrejas do Arrabalde, sabe-se que eram dois templos magníficos que foram quase totalmente destruidos pelo terramoto de 1755. Apenas a igreja de S. Miguel não foi reconstruida, o que originou a extinção da paróquia e a sua integração na paróquia vizinha de Santa Maria, isto no último quartel do século do século XIX, ( provavelmente em 1860),  Mais tarde, em 1897, foi a vez desta freguesia, já unificada,  ser anexada à de S. Pedro de Penaferrim, por força dum Alvará de 9  de Junho desse ano, “por não terem concorrido eleitores”. Foi posteriormente desanexada por força do Decreto nº 10.535 de doze de Fevereiro de mil novecentos e vinte e cinco.

ÁREA E POPULAÇÃO 

A Freguesia de Sintra (Santa Maria e S. Miguel), cobre actualmente uma área aproximada de 11,5 km2 que se alonga, na sua zona habitada, do Arrabalde até ao Ral, abragendo pelo meio  os bairros da Estefânea e da Portela de Sintra, e os lugares de Monte Santos, Cabriz, Lourel, Campo Raso e A-dos-Crivos. Em plena serra, onde o lua beija o monte, temos ainda o Castelo dos Mouros. A freguesia está delimitada a Norte pela Freguesia da Terrugem, a Sul por S. Pedro de Penaferrim, a Leste pela Freguesia de Algueirão-Mem Martins e a Oeste pela de S. Martinho.  A população actual ronda os 10.000 habitantes.

CARACTERÍSTICAS

Santa Maria e S. Miguel é uma freguesia em franca expansão, que não ficou parada no tempo. Sem esquecer o passado, cujas memórias se esfoça por conservar, não deixa de ter os olhos bem postos no futuro. Tentam os responsáves autárquicos e a população que ama Sintra encontrar um equilíbrio sustentável entre o passado e aquilo que se pretende que seja o futuro, sem que qualquer um deles invabilize o outro. É sobre as memórias do passado que as sociedades inteligentes alicerçam o seu  futuro.
 Freguesia maioritáriamente de cariz urbano, (os bairros da Estefânia e da Portela de Sintra, o Arrabalde, Lourel e Monte Santos), dispõe de algumas áreas caracteristicamente rurais, (um pouco em Cabriz, no Ral, Campo Raso e A-dos-Crivos). Se é verdade que o comércio não se modernizou o suficiente e está ainda longe da vitalidade desejada, em contrapartida, os sector dos serviços tem crescido rapidamente e está activo e pujante, centralizado preferencialmente na Estefânia e na Portela de Sintra.  Serviços camarários vários, Finanças, Tribunal, Protecção Civil, Julgado de Paz, bancos, seguradoras e clínicas médicas e de diagnóstico são alguns dos exemplos de uma vasta rede de serviços implantada na área da freguesia. Também o sector dos transportes tem aqui as suas bases principais. A primitiva estação ferroviária, o interface com os autocarros junto do apeadeiro da Portela, o eléctrico e as praças de táxis.  

PATRIMÓNIO EDIFICADO

É vasto e rico o património da Freguesia de Sintra (Santa Maria e S. Miguel). O seu mais importante, e mais emblemático monumento é sem dúvida o Castelo dos Mouros, antiga fortaleza medieval, herança de quatro séculos de ocupação muçulmana. Praticamente destruido pelo terramote de 1755 foi recuperado no século XIX pelo Rei-Artista, D. Fernando II, embora com uma configuração diferente da construção original. Diz-se que na Torre Real, no ponto mais elevado das muralhas terá vivido o poeta Bernardim Ribeiro.
Os Paços do Concelho é uma das mais belas peças arquitectónicas da nossa freguesia. Começou a ser construido em 1906 segundo um projecto do arquitecto Adães Bermudes, no local onde se encontrava a ermida de S. Sebastão.
A Cadeia Comarcã de Sintra contruida em 1909 nos terrenos do antigo cemitério de S. Sebastião veio substituir o antigo estabelecimento prisional que existia na Vila Velha, junto à Torre do Relógio. Adães Bermudes, o arquitecto, desenhou-a de forma aparecer uma “fortaleza medieval” de forma hexagonal com as diferentes faces ligadas por merlões, torrelas e guaritas. A cadeia foi desactivada em Junho de 1969.  
O Monumento aos Combatentes da Grande Guerra, instalado na Correnteza é uma obra do escultor José da Fonseca, para homenagear os soldados caídos em combate durante a 1ª  guerra mundial, (1914/1918);

A capela de Santo Amaro, é descrita no site da  Câmara Municipal de Sintra, da seguinte forma: “Sobre uma pequena elevação de terreno diante do velho Solar dos Ribafria, encontra-se a elegante Capela de Santo Amaro, ali erguida, provavelmente, no século XIII ou XVI. Embora de linhas simples, este templo, construído em estilo românico, é imponente na sua humildade”.

O Convento da Trindade foi “fundado em finais do século XIV, pertencia à Ordem dos Frades Trinitários, ordem mendicante oriunda do convento da Trindade em Lisboa. O convento propriamente dito terá sido mandado construir por volta de 1400, no reinado de D. João I, aproveitando uma antiga ermida aí existente. Desse primitivo edifício já nada resta hoje, e a fachada que podemos observar é obra de sucessivas alterações, a última das quais na década de 1980”.

A igreja de Santa Maria, (classificada como monumento nacional), foi mandada edificar no último quartel do século XIII, pelo prior Matim Dade, em substituição de uma pequena uma ermida que ali existia. Destruida quase por completo pelo terramoto de 1755, foi então reconstruida, mantendo o pórtico original. Merecem destaque a capela-mor  com a sua abóboda artesonada medieval, a pia baptismal manuelina e uma magniífica imagem estofada e policromada, do século XVII, representando Nossa Senhora da Conceição.
Como exemplos de arquitectura mais recente temos o Centro Cultural Olga de Cadaval, (antigo Cine-Teatro Carlos Manuel), o Museu de Arte Moderna, onde há algumas décadas atrás funcionou o antigo casino, e a igreja de S. Miguel, um exemplo muito interessante da nova arquitectura religiosa.

O PATRIMÓNIO CULTURAL
Sintra é um dos principais pólos culturais do nosso país, com prestígio reconhecido além-fronteiras, principalmente pelo elevado nível da programação do seu Festival de Música. Na área de Santa Maria e S. Miguel estão instalados alguns dos mais importantes equipamentos culturais da nossa terra, como o Centro Cultural Olga de Cadaval,  o Museu de Arte Moderna, a Biblioteca Municipal, a Casa do Eléctrico e a Casa do Teatro de Sintra. A componente científica não podia ser esquecida e o Centro de Ciência Viva, instalado na Ribeira de Sintra, tem sido um veículo de divulgação da ciência, principalmente entre as crianças. Uma referência para o Jornal de Sintra, um orgão de comunicação social, já com mais de 75 anos de existência, ao longo dos quais tem vindo a desenvolver uma acção importantíssima na divulgação da cultura sintrense, das suas personalidades mais marcantes e na defesa dos interesses de Sintra e dos sintrenses.
Como curiosidade, e dando voz à minha costela de aficionado, e também porque talvez poucos sintrenses o saibam, existiu em tempos em Sintra uma praça de touros, no local onde se encontra hoje o Mercado Municipal da Estefânia. José Alfredo da Costa Azevedo, em “Bairros de Sintra”, conta-nos como foi: “Entre as Ruas Barros Queirós, Ulisses Alves, Capitão Mário Pmentel e as traseiras dos prédios da Avª Heliodoro Salgado , onde foi construído o mercado actual da Estefânia existiu uma praça de touros, construida antes de 1878, (…), foi demolida após implantação da República  por ordem do Presidente, Fernando Formigal de Morais, com a intenção de fazer uma melhor. Mas o Formigal de Morais, aborrceu-se com o cargo, (e isso acontece a muita gente boa), abandonou-o, e a praça de touros nunca mais se construiu.


O PATRIMÓNIO GASTRONÓMICO
Falar da gastronomia de Sintra é falar essencialmente da sua doçaria tradicional e principalmente das queijadas, das sabororas e apreciadas queijadas de Sintra. O bairro da Estefânia ocupa um lugar importante na história desse doce ancestral já referenciado em escritos de 1227, reinava então em Portugal o rei D. Sancho II. As fábricas das queijadas do Gregório e a das Verdadeiras Queijadas da Sapa, ainda em plena actividade, estão situadas na área da nossa Freguesia, onde se fabricaram também, em tempos idos, as queijadas da Mathilde e em épocas mais remotas, as queijadas Bijou, cuja fábrica funcionava na Rua Alfredo Costa. Recordo-me ainda da existência, nos limites da Freguesia, na Volta do Duche junto à entrada do parque, hoje da Liberdade, um outro queijeiro, que fabricava e vendia as suas queijadas, cujo nome já não consigo lembrar, num edifício que foi demolido por ocasião do alargamento da Volta do Duche, há já mais de meio século. Novas marcas de queijadas surgiram entretanto na Estefânia, as “Centenárias”, fabricadas pla pastelaria Tirol, as “Monserrate”, fabrico da pastelaria com o mesmo nome e “Palácio Real” do Restaurante Apeadeiro.  Uma referência ainda,e muito especial, para os pastéis de nata do Gregório, uma verdadeira delícia, que rivalizam, com vantagem, na minha opinião, com os celebrados pastéis de Belém.

QUINTAS

São várias as quintas e casas apalaçadas existentes na nossa freguesia, algumas delas, infelizmente, em estado de alguma degradação, fruto do abandono a que têm sido votadas após o falecimento dos antigos proprietários e que os herdeiros, por desinteresse, dificuldades económicas ou desentendimentos e litígios, têm vindo a descurar. Felizmente nem todas estão decadentes pois existem ainda algumas bastante bem conservadas como por exemplo a Quinta da Ribafria, a Quinta do Palmela ou de S. Sebastião e a Quinta dos Lagos.
Existem ainda, algumas outras propriedades de menor dimensão, mas todas elas pitorescas e com motivos de interesse, quer seja pela frondosidade dos parques, pela diversidade da vegetação, pela traça arquitectónica dos solares, e até, em algumas delas, pelas suas pequenas mas interessantes capelas. São elas a Quinta de Santo António, a Quinta da Roussada, a Quinta dos Cedros, a Vila Eugènia, o parque da Casa Mantero, (hoje a Biblioteca Municipal), o Casal de Santa Teresinha e outras tantas que existem um pouco por toda a área da nossa freguesia.

O ASSOCIATIVISMO

Algumas das mais importantes colectividades de Sintra, estão sediadas em Santa Maria e S. Miguel, freguesia onde sempre existiu  forte espírito associativo bem expresso no significativo número de colectividades que aqui nasceram e que ao longo da sua vida se têm dedicado à prática do desporto, à promoção da cultura e do recreio e à acção social. O desporto tem sido dignamente representado pelo Sport União Sintrense, uma referência no desporto sintrense (já foi campeão nacional de futebol da 3ª divisão ), pelo  Hockey Clube de Sintra, um baluarte do hóquei em patins em Portugal, com vários títulos nacionais e internacionais conquistados e berço de vários campeões do mundo; a Tuna Operária de Sintra que para além da componente recreativa que a caracterizou no primeiro meio século da sua existência, tem vindo ultimamente a destacar-se na prática desportiva e que deu, recentemente, à nossa terra um campeão do mundo na modalidade de karaté shukokai e o Sporting Clube de Lourel, que tem vindo a desenvolver um trabalho exemplar nos escalões do futebol de formação. De referir que, quer o Sport União Sintrense, quer a Tuna Operária de Sintra, se preparam já para comemorar condignamente os respectivos centenários, o Sintrense a 7 de Outubro do próximo ano, a Tuna, no dia 1 de Maio de 1912.   

Para além das colectividades já mencionadas há muitas outras que têm vindo a desenvolver uma actividade a todos o títulos notável ao serviço da população sintrense, nas mais diversas áreas de actuação. A Associação Cultural, Social e Recreativa de Cabriz; a Liga dos Amigos da 3ª Idade, “OS AVÓS”, que desenvolve uma importantíssima actividade social direccionada aos idosos, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sintra, cuja importância é desnecessário salientar, por tão evidente que é e a Santa Casa da Misericórdia de Sintra, que desenvolve a sua actividade em três sectores fundamentais: acção social, infância e idosos. A Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra (Universidade da 3ª Idade); Associação de Idosos, Pensionistas e Reformados de Lourel; a delegação de Sintra da Associação Coração Amarelo; a delegação de Sintra da Cruz Vermelha Portuguesa; a “ Âncora” – Associação de Pais em Luto; Associção Cultural, Desportiva e Recreativa D. Carlos I; a Casa do Concelho de Resende; o Núcleo de Sintra da Liga dos Combatentes, a Associação de Defesa do Património de Sintra; o Centro Cultural e Desporto Sintrense; a CERCITOP, (Centro de Educaçãoe Reabilitação de de Todo o País, CRL); o Grupo nº 93 da Associação dos Escoteiros de Portugal; o Agrupamento nº 1134 do Corpo Nacional de Escutas; a União Columbófila de Sintra;, a Associação Empresarial de Sintra e o Clube de Esgrima de Sintra, têm também elas um historial brilhante, cobrindo praticamente todas as áreas sociais e etárias, promovendo o apoio e a solidariedade, a saúde física e mental, a intervenção cívica, a partilha e o espírito de equipa, É um rol imenso e inestimável de serviços prestados à população, garantidos por pessoas que sacrificam muito do seu tempo livre para o colocar ao serviço do seu semelhante. 

AS PESSOAS

Falámos atrás nos diversos tipos de património que enriquecem e dignificam a nossa freguesia, que encantam os visitantes e nos orgulham a todos os que aqui nascemos, ou vivemos. Falta falar ainda de um outro tipo de património, talvez o mais importante e talvez aquele que menos se evidencia e o menos reconhecido: o património humano… as pessoas. São elas que sonham, são elas que acreditam no sonho e são elas que o concretizam. Sem elas e sem a sua capacidade de sonhar a obra não nasceria. Sintra está repleta de sonhos concretizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estes breves dados históricos com que se pretendeu dar a conhecer um pouco melhor a Freguesia de Sintra (Santa Maria e S. Miguel), foram pesquisados em várias publicações e sites da internet, devidamente referenciados. Um estudo mais aprofundado ter-nos-ia proporcionado muito mais informação para partilhar com os leitores deste programa das festas de Nossa Senhora do Cabo Espichel, e proporcionar-lhes-ia conhecimentos mais aprofundados da história da nossa terra. Por limitações de tempo e de espaço não foi possível ir mais longe. Se para muitos dos nossos leitores nada do que aqui foi escrito constitui novidade, acredito que para muitos outros há aqui informação que desconheciam. Se este trabalho for útil, nem que seja para um leitor apenas, acreditem que, para mim, valeram a pena, as muitas horas consumidas na pesquisa e na construção do texto.
A nossa freguesia vai receber, uma vez mais, a veneranda imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel que desde 1460 nos visita apenas uma vez em cada quarto de século. São festas que tocam no coração do povo. São momentos de alegria mas também são momentos de saudade.Todos nós tivemos pessoas queridas que viveram connosco estas festas há 26 anos atrás e que agora já não estão presentes. Não o estarão físicamente, é verdade, mas estarão, com toda a certeza, bem dentro dos nossos corações. Cada uma delas ajudou também a escrever a história destas festas. Fazem parte da história desta freguesia que é a nossa. Saibamos ser dignos dos nossos antepassados, e que para nós seja uma questão de honra contrubuirmos para o brilhantismo destes importantes festejos. Também nós, ainda que anonimamente, passaremos a fazer parte da memória das festas da Senhora do Cabo e da história da freguesia de Santa Maria e S. Miguel, porque é o povo que faz a história.
Guilherme Duarte

Nota: Este trabalho contém passagens retiradas dos sites da Câmara Municipal de Sintra e Malha Atlântica.



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BRASÃO DE ARMAS E ESTANDARTE

Orago - Santa Maria e São Miguel  Área - 11,4 Km2
  Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República, III Série de 15/12/1997
Armas - Escudo de prata, asna merlonada de verde; em chefe, uma flor-de-lis e um ferro de lança, ambos de vermelho. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro, em maiúsculas : “ SINTRA – SANTA MARIA E SÃO MIGUEL “.


 ESTANDARTE - De verde, cordões e borlas de prata e verde. Haste e Lança a ouro.



Guilherme Duarte

SINTRA - ENTRE O ESPLENDOR E A RUÍNA


No final da primeira metade do século passado era possível percorrem-se as ruas de Sintra sem deparamos com um edifício abandonado ou em ruinas. Nessa época o património edificado da nossa terra estava bem conservado pelos seus proprietários que faziam questão em não o deixar deteriorar. Sintra era então uma vila  com a cara lavada, cuidada, elegante e  acolhedora  onde dava gosto viver,  pelo que era muito procurada pelas famílias mais abastadas para aqui se radicarem ou apenas para usufruirem dos seus encantos nos fins de semana e nos periodos de férias. Não havia palacetes, mansões, quintas ou vivendas abandonadas nem jardins deixados ao desleixo, transformados em verdadeiros matagais, como acontece actualmente.

Sintra era nesse tempo um destino de férias bastante apreciado por muitas famílias portuguesas e estrangeiras que aqui acorriam. No verão a nossa vila recebia com hospitalidade e simpatia todos os que procuravam em Sintra descanso e encantamento. Havia mais movimento nas ruas, caras novas, e as esplanadas enchiam-se estando abertas até tarde para receber os clientes que a elas acorriam depois das sessões nocturnas dos dois cinemas  que estavam então em plena actividade. Eram tempos em que não havia ainda a obsessão pela praia. É verdade que elas já eram bastante procuradas nessa época em que um dia de praia era para a maioria dos sintrenses  um dia de festa, uma festa que começava com uma pitoresca viagem no velhinho carro eléctrico que, completamente lotado e a chiar sobre os carris, percorria pachorrentamente o percurso entre Sintra e as Azenhas do Mar, por entre pomares e vinhedos, sempre com a beleza da nossa serra como pano de fundo. A praia não exercia ainda a sua ditadura e alternava com os prazeres do campo, o ar puro da montanha, a fresquidão da floresta, a amenidade do clima e as águas cantantes que, cristalinas, jorravam abundantemente nas fontes e corriam serra abaixo em numerosos regatos, a preferência dos veraneantes. Sintra era então uma vila tranquila onde a vida sorria e todos os seus habitantes tinham gosto em preservar e embelezar as suas casas e jardins onde era quase uma obrigação plantar pelo menos uma cameleira para enfeitar a  Primavera sintrense com a sua flor emblemática, a camélia.

Os anos foram-se sucedendo rapidamente como rápida foi a mudança de gostos e de hábitos dos portugueses que passaram a adoptar outros costumes e preferências. O uso do automóvel generalizou-se,  o acesso às praias ficou bastante mais facilitado e actualmente a balbúrdia dos areais superlotados sobrepõe-se definitivamente ao sossego dos campos e da floresta. O sol escaldante tornou-se mais apetecível que a fresquidão dos bosques. Simultaneamente outros sons foram invadindo os dias de Verão. O rumorejar melodioso das águas correntes, o sussuro brando da folhagem das árvores a responder às carícias da brisa suave e os trinados alegres da passarada foram destronados definitivamente pelo ruído estridente dos transistores, pelo o som irritante das “raquetadas” e pela vozearia da populaça em “ cuecas” a abafar o grasnar das gaivotas e a melodia sincopada das ondas a lançarem-se furiosamente sobre a areia dourada da praia. As novas modas roubaram a Sintra os seus veraneantes, o tempo foi levando consigo muitos dos antigos proprietários enquanto  os herdeiros, em litígio, se perdiam  em infindáveis e ruinosas batalhas judiciais enquanto as suas propriedades se iam  deteriorando por efeito do abandono a que foram votados e pela acção destruidora do tempo.

Hoje, a vila de Sintra tem centenas de edifícios em ruínas, muitos deles com um passado faustoso atrás de si. Outros, mais modestos encerram simplesmente a memória de tantas e tantas famílias que os habitaram. As suas paredes foram testemunhas silenciosas de vidas passadas, de alegrias e dramas, de felicidade e de dor de sintrenses que nelas nasceram, viveram e morreram, São edifícios com história, a história simples de gente simples da nossa terra. Essas paredes que serviram durante tantos e tantos anos como porto da abrigo para tantas famílias estão hoje por terra derrubadas pelo desinteresse e pala incúria. 
É a história e a memória de uma parte de Sintra e das suas gentes, transformada num montão de destroços.


Guilherme Duarte 

(Texto publicado no jornal Cruz Alta)