A invasão do cimento parece
querer regressar em força ao nosso concelho e desta vez ameaça mesmo
instalar-se às portas de Sintra. Depois de alguns anos em que a construção foi
drasticamente reduzida, em parte por decisão da autarquia que pretendeu travar
a sua expansão, mas principalmente pela retracção do mercado devido à profunda
crise em que este país mergulhou e que afectou sobremaneira o sector da construção
civil. Recentemente surgiram notícias que considero inquietantes, que indiciam que
algo parece estar a mudar na política de construção adoptada pelo actual
executivo camarário. Após ter sido anunciada a construção de um novo centro
comercial do Jumbo a escassas centenas de metros do Forum Sintra veio agora a
público a existência de um mega projecto que visa construir ali bem perto, na
Abrunheira Norte, a Cidade da Sonae que prevê a construção de um outro
hipermercado que muito provavelmente estará englobado num outro centro
comercial ainda que de dimensões mais reduzidas. Esse projecto, ao que consta, prevê
a construção de vários edifícios destinados a acolher empresas, clínicas e serviços
vários. Está prevista ainda a construção de um parque temático que se chamará a
Sintra dos Pequeninos.
A construção desta Cidade da
Sonae está já a ser objecto de forte contestação entre a população sintrense
que vê com preocupação as garras do betão a aproximarem-se perigosamente da
garganta de Sintra ameaçando sufocá-la. Quando Sintra foi designada como Vila
Património Mundial na Categoria de Paisagem Cultural, foi estabelecida, se não
estou em erro, a criação de uma zona tampão destinada a impedir o avanço do
cimento até à entrada da vila de Sintra. Será que este mega projecto que agora
se anuncia respeita os limites e as condições dessa zona tampão?
Não vou tecer neste momento
grandes considerações sobre este empreendimento porque desconheço qual a
dimensão da área a ocupar e a volumetria dos edifícios a construir mas devo
dizer que é com preocupação que, à partida, encaro a construção desta cidade da
Sonae numa zona demasiado próxima da entrada mais nobre de Sintra, como se sabe
Vila Património Mundial da Humanidade que devia estar protegida contra a
invasão do cimento. Todos conhecemos o resultado desastroso da política
urbanística seguida por vários executivos camarários ao longo dos anos e os
reflexos amplamente negativos que a aprovação de várias urbanizações
gigantescas provocaram quer na qualidade de vida dos moradores que para ali foram
residir, quer na mobilidade rodoviária quer ainda na deterioração da paisagem.
Foram erros graves aqueles que se foram cometendo ao longo dos anos, erros esses
que não queremos ver repetidos.
Não me vou alongar mais
sobre este tema, neste momento, dada a escassa informação de disponho mas
gostaria de sensibilizar os nossos leitores para estarem atentos ao
desenvolvimento deste empreendimento e manifestarem junto da autarquia a sua
discordância se não estiverem de acordo
com o que se pretende ali fazer.
Guilherme Duarte
(Artigo publicado no nº de Janº 2015 do jornal Cruz Alta)
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