PREÂMBULO

Deus quis fazer de Sintra um verdadeiro paraíso enquanto o homem parece empenhado em transformá-lo num inferno. À magia, ao misticismo, ao mistério, ao romantismo e à história gloriosa de Sintra contrapõe-se actualmente a incompetência, o desinteresse, o desleixo, o desrespeito, a ganância e o oportunismo de quem tem por missão defender esta terra única e maravilhosa que Lorde Byron um dia designou como um Éden Glorioso. Celebrada por grandes vultos da cultura mundial do passado, Sintra não pode ser agora desrespeitada pelos medíocres. O futuro de Sintra só pode ser projectado com um total e rigoroso respeito pelo seu passado e pelas sua características únicas. Sintra não é uma terra qualquer e por isso mesmo não pode ser governado por uma gente qualquer. Só os sintrenses por nascimento ou por adopção, podem defender convenientemente este pedaço de paraíso que Deus nos concedeu. Para servir Sintra é preciso amá-la, senti-la, e quem melhor que os sintrenses para o fazer?

A ruína alastra um pouco por toda a parte, as fontes calaram-se e já não nos embalam com o seu canto refrescante. É imperioso reverter esta situação. Eu sei que há sintrenses bem mais competentes do que eu para lutar por Sintra. Há muito que venho lutando dentro das fracas possibilidades de que disponho, mas nem a modéstia dos meus argumentos nem o brilhantismo dos argumentos de quem sabe e pode mais do que eu, têm merecido a atenção dos responsáveis autárquicos competentes. Só nos resta continuar fazer ouvir a nossa voz, os nossos protestos e a s nossas sugestões. Todos não somos demais para defender a nossa SINTRA.

sábado, 3 de janeiro de 2015

O BETÃO ATACA DE NOVO




A invasão do cimento parece querer regressar em força ao nosso concelho e desta vez ameaça mesmo instalar-se às portas de Sintra. Depois de alguns anos em que a construção foi drasticamente reduzida, em parte por decisão da autarquia que pretendeu travar a sua expansão, mas principalmente pela retracção do mercado devido à profunda crise em que este país mergulhou e que afectou sobremaneira o sector da construção civil. Recentemente surgiram notícias que considero inquietantes, que indiciam que algo parece estar a mudar na política de construção adoptada pelo actual executivo camarário. Após ter sido anunciada a construção de um novo centro comercial do Jumbo a escassas centenas de metros do Forum Sintra veio agora a público a existência de um mega projecto que visa construir ali bem perto, na Abrunheira Norte, a Cidade da Sonae que prevê a construção de um outro hipermercado que muito provavelmente estará englobado num outro centro comercial ainda que de dimensões mais reduzidas. Esse projecto, ao que consta, prevê a construção de vários edifícios destinados a acolher empresas, clínicas e serviços vários. Está prevista ainda a construção de um parque temático que se chamará a Sintra dos Pequeninos.

A construção desta Cidade da Sonae está já a ser objecto de forte contestação entre a população sintrense que vê com preocupação as garras do betão a aproximarem-se perigosamente da garganta de Sintra ameaçando sufocá-la. Quando Sintra foi designada como Vila Património Mundial na Categoria de Paisagem Cultural, foi estabelecida, se não estou em erro, a criação de uma zona tampão destinada a impedir o avanço do cimento até à entrada da vila de Sintra. Será que este mega projecto que agora se anuncia respeita os limites e as condições dessa zona tampão?

Não vou tecer neste momento grandes considerações sobre este empreendimento porque desconheço qual a dimensão da área a ocupar e a volumetria dos edifícios a construir mas devo dizer que é com preocupação que, à partida, encaro a construção desta cidade da Sonae numa zona demasiado próxima da entrada mais nobre de Sintra, como se sabe Vila Património Mundial da Humanidade que devia estar protegida contra a invasão do cimento. Todos conhecemos o resultado desastroso da política urbanística seguida por vários executivos camarários ao longo dos anos e os reflexos amplamente negativos que a aprovação de várias urbanizações gigantescas provocaram quer na qualidade de vida dos moradores que para ali foram residir, quer na mobilidade rodoviária quer ainda na deterioração da paisagem. Foram erros graves aqueles que se foram cometendo ao longo dos anos, erros esses que não queremos ver repetidos.

Não me vou alongar mais sobre este tema, neste momento, dada a escassa informação de disponho mas gostaria de sensibilizar os nossos leitores para estarem atentos ao desenvolvimento deste empreendimento e manifestarem junto da autarquia a sua discordância  se não estiverem de acordo com o que se pretende ali fazer.


Guilherme Duarte

(Artigo publicado no nº de Janº 2015 do jornal Cruz  Alta) 

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