PREÂMBULO

Deus quis fazer de Sintra um verdadeiro paraíso enquanto o homem parece empenhado em transformá-lo num inferno. À magia, ao misticismo, ao mistério, ao romantismo e à história gloriosa de Sintra contrapõe-se actualmente a incompetência, o desinteresse, o desleixo, o desrespeito, a ganância e o oportunismo de quem tem por missão defender esta terra única e maravilhosa que Lorde Byron um dia designou como um Éden Glorioso. Celebrada por grandes vultos da cultura mundial do passado, Sintra não pode ser agora desrespeitada pelos medíocres. O futuro de Sintra só pode ser projectado com um total e rigoroso respeito pelo seu passado e pelas sua características únicas. Sintra não é uma terra qualquer e por isso mesmo não pode ser governado por uma gente qualquer. Só os sintrenses por nascimento ou por adopção, podem defender convenientemente este pedaço de paraíso que Deus nos concedeu. Para servir Sintra é preciso amá-la, senti-la, e quem melhor que os sintrenses para o fazer?

A ruína alastra um pouco por toda a parte, as fontes calaram-se e já não nos embalam com o seu canto refrescante. É imperioso reverter esta situação. Eu sei que há sintrenses bem mais competentes do que eu para lutar por Sintra. Há muito que venho lutando dentro das fracas possibilidades de que disponho, mas nem a modéstia dos meus argumentos nem o brilhantismo dos argumentos de quem sabe e pode mais do que eu, têm merecido a atenção dos responsáveis autárquicos competentes. Só nos resta continuar fazer ouvir a nossa voz, os nossos protestos e a s nossas sugestões. Todos não somos demais para defender a nossa SINTRA.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O BOM TRABALHO DOS INJUSTIÇADOS


Este espaço há anos que tem vindo a ser dedicado a Sintra, umas vezes para denunciar situações que no nosso entender merecem ser criticadas por denegrirem a sua imagem, outras vezes para aplaudir as que a prestigiam. Fazemo-lo sempre apenas com a intenção de servir Sintra. Este mês, porém, irei como habitualmente falar de Sintra mas desta vez para falar de pessoas, de trabalhadores que se esforçam e põem toda a sua competência, vontade e saber ao serviço da nossa terra e da sua população. Para o fazer irei socorrer-me do exemplo de um homem cujo nome desconheço e que tem como função manter limpas as ruas e passeios do Bairro da Portela. É um trabalhador da limpeza das ruas, um “almeida” como se chamava a quem desempenhava esta profissão desvalorizada por muitas pessoas preconceituosas mas que, muito justamente, já conquistou o respeito da maioria da população.

A ideia de homenagear neste espaço na figura de um só trabalhador, os trabalhadores da administração local ou das empresas municipais que servem Sintra com dedicação e profissionalismo e que contribuem com o seu esforço para manter a boa imagem da Vila Patrimonio Mundial e a eficácia dos serviços prestados à sua população e quem a visita, ocorreu-me pela observação que tenho vindo a fazer ao longo do tempo ao trabalho de um homem do qual conheço apenas o empenho e a competência com que desempenha a sua função. Este homem é um exemplo de brio e competência profissional. Há alguns anos que o tenho vindo a observar e apetece-me dizer que cansa ver esse homem trabalhar. Faça chuva ou faça sol, haja vento ou esteja frio este homem não pára nunca. No Outono é curiosa a luta épica que trava contra as folhas que amarelecidas caiem das árvores para atapetar o chão. Em tempos comentei com ele que estava a travar uma batalha que nunca conseguiria vencer. Riu-se, disse que sim e continuou a sua luta. Varre, segue em frente depois volta atrás e volta a varrer enquanto as folhas continuam a cair. É uma luta de teimosos em que a natureza vence o homem mas este, com a sua persistência nunca se dá por vencido.
 .
Este homem simples, educado e trabalhador que está longe de ser um jovem, é um exemplo de que na função pública, actualmente tão atacada pela governação, há quem trabalhe muito e muito bem apesar de saber que a compensação pelo seu esforço se traduz em cortes nos seus salários. A esses homens e essas mulheres que trabalham em prol de Sintra e dos sintrenses com empenho e dedicação, como este homem que faz questão em manter as ruas da Portela de Sintra sempre limpas, eu tiro o meu chapéu. Poder-se-á dizer, e com razão, que não fazem mais que a sua obrigação. É verdade que sim mas também é verdade que a injustiça, para além de revoltar, também desmotiva e um trabalhador desmotivado não tem ânimo para se aplicar tanto como devia ou como se lhe exige. Um povo deprimido e oprimido pela tirania de um Estado cruel para quem trabalha, tal a desconsideração e desumanidade com que é tratado, a braços com uma taxa de desemprego que deveria tirar o sono aos nossos políticos, um povo que está a empobrecer rapidamente, espoliado frequentemente com cortes nos salários e nas pensões e sufocado por impostos brutais e taxas e mais taxas, não pode ter motivação nem tem condições psicológicas para ser tão produtivo quanto se lhe exige. É a tal história do “não há dinheiro, não há palhaços”. Um trabalhador injustiçado dificilmente terá ânimo e vontade para se esforçar muito no seu desempenho profissional. Pode parecer que estou a fazer aqui a apologia de uma espécie de greve de braços caídos. Não é essa a minha intenção, estou apenas a querer dizer que todos somos humanos, com as virtudes e fraquezas próprias da raça humana e é humano que quem não se sente devidamente compensado pelo seu trabalho e se vê espoliado de parte dos seu salário e dos seus direitos não esteja motivado para ter a produtividade exigida. Qualquer técnico de recursos humanos diria o mesmo.

Felizmente que nem todos os trabalhadores injustiçados se deixam vencer pelo desânimo e há ainda muitos que esquecem a injustiça com que são tratados e trabalham empenhadamente pondo todo o seu esforço e competência ao serviço de Sintra e dos sintrenses tal como este homem simples e persistente que luta contra as folhas que o Outono derruba e mantém limpas as ruas da Portela de Sintra. A todos esses trabalhadores eu tiro o meu chapéu e quanto ao chamado “almeida” que dei aqui como exemplo sinto-me honrado por lhe apertar a mão sempre que me cruzo com ele. Um homem que não sei quem é nem como se chama, só sei que trabalha muito e trabalha bem..

NOTA:  De acordo com a Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, os trabalhadores da limpeza de Lisboa são conhecidos por almeidas porque, inicialmente, alguns ou quase todos seriam naturais de Almeida, vila fronteiriça do distrito da Guarda.


Guilherme Duarte 

(Artigo publicado no número de Maio do jornal Cruz Alta)I

segunda-feira, 5 de maio de 2014

LIXO SINTRENSE

O CENTRO DE SAÚDE

É do conhecimento geral que as instalações do Centro de Saúde de Sintra não reunem as condições mínimas exigíveis, de comodidade e de funcionalidade, quer para os utentes, quer para os médicos e pessoal de enfermagem, quer ainda para o pessoal administrativo.

Há anos que esta situação se vem arrastando sem que se vislumbre uma solução para breve nem haja sinais visíveis de que alguma coisa está a ser feita para dotar Sintra de um Centro de Saúde moderno e funcional como merece a sede do segundo maior concelho do país, que até é Património Mundial. Para além de ter de garantir os cuidados de saúde à população residente tem ainda que estar preparada para os prestar também aos turistas que deles venham a precisar, e são muitos milhares os turistas que visitam Sintra todos os meses. Uns e outros merecem condições de atendimento com dignidade.

Porque, pelo andar da carruagem, ainda deverão passar muitos anos antes que seja construído um novo Centro de Saúde em Sintra, talvez não fosse má ideia ir pensando já numa solução provisória que amenize as insuficiências actuais. Em conversa com alguns profissionais de saúde a trabalhar em Sintra, houve quem defendesse a ideia de se aproveitar as antigas instalações da central leiteira na Portela de Sintra para aí instalar o Centro, ainda que provisóriamente.  É um edifício amplo, actualmente abandonado e que dispõe de um espaço envolvente apreciável, que com as indispensáveis obras de adaptação poderia servir perfeitamente para que os serviços ali funcionassem com muito melhores condições do que actualmente. Manter o actual estado de coisas é que me parece, no mínimo, intolerável.


O LIXO

Existe uma grave incompatibilidade entre a imundície e o turismo. Centros históricos classificados como património da humanidade, imundos e mal cheirosos, não conheço nenhum a não ser em Sintra.

Lixo espalhado pelo chão junto aos contentores, umas vezes por estarem cheios, outras por falta de civismo de algumas pessoas, não é um bom cartão de visita para a nossa terra. Paredes meias com a igreja de S. Martinho, considerada património nacional, bem perto do posto de turismo e no local da paragem onde os turistas esperam o autocarro que os levará até à Pena e ao Castelo dos Mouros a imundície e o mau cheiro agridem a vista e o olfacto de quem por ali passa. Como sintrense sinto-me envergonhado com esta situação e com os comentários pouco simpáticos que tenho ouvido da boca de quem nos visita. Eu, como disse, tenho vergonha, e quem mais?



Guilherme Duarte

(Artigo publicado há cerca de 3 anos no jornal Cruz Alta)

sábado, 3 de maio de 2014

O CASINO DE SINTRA ( recuperação de um texto já com alguns meses)

O MUSEU DE ARTE MODERNA MORREU. VIVA O CASINO DE SINTRA.


“Le roi est mort. Vive le roi”. Esta conhecida expressão remonta ao longínquo ano de 1422 quando foi proferida no exacto momento em que o caixão do rei Charles VI descia ao túmulo na Catedral de Saint Denis, e o seu filho era proclamado de imediato o novo rei de França, subindo ao trono como Charles VII. A partir daí esta frase passou a ser proferida sempre que em França um rei era aclamado no preciso momento em que os restos mortais do seu antecessor desciam à sepultura. É do conhecimento geral, julgo eu, que que depois da retirada da colecção de arte do sr. Jo Berardo o reinado do Museu de Arte Moderna chegou ao fim. Morreu. Um novo reinado vai agora começar. Vai suceder-lhe um novo projecto cultural sob a égide da Sintra Quorum, um projecto que arranca no dia 2 de Novembro com a abertura da exposição entitulada “ DIS MANIBYS - Rituais da Morte Durante a Romanidade”, exposição essa que vai estar patente ao público de 2 de Novembro a 30 de Dezembro do presente ano. Este espaço que começou a ser construido em 1922 e foi inaugurado em 1924 destinava-se a promover a diversão e animação em Sintra, objectivo que foi inteiramente conseguido durante alguns anos em que deu brilho e “glamour” às noites sintrenses. Era o Casino, nome por que continuou a ser conhecido mesmo após o encerramento da sua actividade e utilizado para outros fins que nada tinham a ver com as intenções iniciais dos seus proprietários. Os sintrenses persertvaram até aos dias de hoje o nome original do edifício não o deixando cair no esquecimento. Essa teimosia da população deu os seus frutos porque o nome agora escolhido pelo executivo camarário para este edifício deixado livre pelo extinto Museu de Arte Moderna e que vai desenvolver um projecto mais abrangente que o anterior, foi precisamente o de “Casino de Sintra”. Parabéns aos sintrenses pela sua obstinação e parabéns também à Câmara Municipal de Sintra que soube sentir e respeitar os sentimentos da população. Por isso, inspirado na tal expressão francesa de 1422 e adaptando-a à esta nova realidade do nosso casino acompanho os sintrense nestre brado: “O Museu de Arte Moderna morreu. Viva o Casino de Sintra”. Que tenha um longo e brilhante reinado para prestígio desta terra linda de morrer que não se acomodou nas suas belezas naturais e na sua riqueza patrimonial mas que quis e foi capaz de conquistar, também o direito de ser considerada a capital permanente da cultura em Portugal.

Para o início do próximo ano está já programada uma nova exposição no âmbito do “Ano do Brasil em Portugal”  Segundo julgo saber estão a ser preparados, para o ano de 2013 vários eventos culturais. A Sintra Quorum parece ter grandes projectos para dinamizar o Casino de Sintra, tal como exposições internacionais de primeira linha e congressos de grandes dimensões até agora impossíveis de realizar em Sintra por falta des espaços adequados para os receber. Para que seja possível concretizar essa intenção parece também que a administração da Sintra Quorum pretende recuperar a ideia inicial de ligar o casino ao antigo Cine-Teatro Carlos Manuel hoje o Centro Cultural Olga Cadaval. Os dois edifícios estão preparados desde a sua construção para que essa ligação se possa se concretizar, o que a acontecer permitirá que ambos os espaços se complementem e ofereçam um maior e diversificado leque de opções culturais. Sintra só teria a lucrar com a concretização dessa ideia. Apostem no cumprimento desse sonho já tão antigo mas que nunca foi concretizado, talvez pelas várias utilizações que já foram dado ao casino, algumas delas em áreas que nada tinham a ver com a cultura nem com os objectivos que estiveram nos propósitos dos promotores da sua construção. .

A junção dos dois espaços irá, a concretizar-se, aumentar as suas valências e permitir que finalmente em Sintra haja um verdadeiro, amplo e completo centro cultural que não se limite a apresentar espectáculos musicais, peças de teatro e bailado, que são importantes ninguém pode negar, mas que abranja também várias outras áreas ligadas à cultura. O crescimento do Casino de Sintra está a ser preparado cuidadosamente pela Sintra Quorum. Compreende-se que terá de ser um crescimento lento, progressivo e feito de forma sustentada para que daqui a algum tempo não estejamos aqui de novo a clamar “O Casino de Sintra morreu. Viva o vazio” . Espero que isso não volte a acontecer porque Sintra não merece mais essa maldade. Que o  Casino de Sintra viva por muitos e muitos anos para prestigiar Sintra, servir os sintrenses e os visitantes e para promover a cultura. Tem a palavra a Sintra Quorum.
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Guilherme Duarte  

(Artigo publicado no jornal Cruz Alta há meses atrás) 




Comentário do Dr. João Cahado no Facebook a propósito deste texto:


O Casino de Sintra,
achega de grande calibre



A propósito do Casino de Sintra, a edição de Novembro do ‘Cruz Alta’ inclui um artigo do maior interesse, assinado por Guilherme Duarte, uma das mais conhecidas e autorizadas vozes da comunidade que, ao serviço de Sintra, dos seus valores e dos seus interesses não cessa de nos surpreender com inestimáveis contributos. 

Naturalmente, com a sua autorização, passo a transcrever o texto em referência que, como sabem, vem ao encontro do que subscrevi, acerca do mesmo assunto e, subordinado ao título “Casino, casino e ponto final”, publicado no ‘Jornal de Sintra’, no meu mural do facebook e no blogue sintradoavesso. 

Naturalmente, não posso estar mais de acordo com esta peça do acervo escrito que se vai acumulando, suscitado pela oportuna proposta do Presidente da Câmara Municipal no sentido de oficializar em Sintra a designação CASINO que, afinal, anda na boca dos sintrenses há quase noventa anos. Eis a transcrição.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A LADROAGEM


O Verão chegou finalmente para nos brindar com muito sol e calor quanto baste que justifiquem umas agradáveis visitas às magníficas praias que o litoral sintrense nos oferece. Em Sintra, de há uns anos a esta parte, habituámo-nos a que, com a chegada da época estival, o velhinho carro eléctrico, um dos ex-libris da nossa terra, volte a circular diariamente para percorrer o lindíssimo percurso que liga Sintra à Praia das Maçãs em 45 minutos de puro deslumbramento.   

Há poucos anos, após várias décadas de ausência e depois de os  sintrenses se terem convencido de que não o voltariam a ver a a funcionar, eis que o eléctrico de Sintra voltou aos carris, primeiro apenas entre o Banzão e a Praia das Maçãs para alguns anos mais tarde voltar a Sintra para alegria de todos aqueles os que olham e sentem Sintra com o coração. Infelizmente não foi possível recuperar o percurso antigo, com partida e chegada junto à estação dos caminhos de ferro e muito menos a ligação à Vila Velha e às Azenhas do Mar como acontecia em tempos já longínquos mas só o facto de o eléctrico ter regressado a Sintra foi o suficiente para nos encher a todos de júbilo. Os sintrenses têm com o seu eléctrico uma fortíssima relação afectiva que nem um interregno tão longo conseguiu apagar.

Existe efectivamente um carinho muito especial das gentes de Sintra pelo seu carro eléctrico, carinho esse que nem a prolongada ausência conseguiu apagar. Não surpreendeu ninguém que o seu regresso fosse acolhido com tanto entusiasmo e expectativa. Aquelas carruagens centenárias e barulhentas  fazem-nos reviver, a nós sintrenses da velha guarda, uma infância e uma juventude há muito deixadas para trás, perdidas que estavam na poalha do tempo. Essas carrugens velhinhas ao voltarem a animar e a colorir os caminhos da praia fizeram  ressuscitar recordações ideléveis e levaram-nos a recuar no tempo aos tempos da meninice. Como é agradável a ouvir a “chiadeira” do rodado das carruagens nos carris, um ruido que, longe de ser desagradável, soa aos nossos ouvidos como de uma melodiosa sinfonia se tratasse. Sintra recuperou depois de muitos anos, um dos seus sons tradicionais.   

O eléctrico voltou a circular, os sintrenses rejubilaram, mas simultaneamente recearam que esse regresso viesse no futuro a ser uma vez mais  interrompido. Habituados a ver Sintra e o seu património votados ao desleixo e ao abandono e aa alastramento da detrioração e da ruína um pouco por todo o lado, os sintrenses temeram que esse mesmo desleixo voltasse a matar o nosso eléctrico. Tinham razão os sintrenses nos seus receios porque não tardou muito até que, devido a avarias várias que punham em causa a segurança dos passageiros,  a circulação ficasse reduzida ao trajecto entre Sintra e a Ribeira. O empenhamento da Câmara, e a colaboração de uma entidade privada permitiram entretanto que toda a via fosse recuperada e o eléctrico voltasse a circular normalmente. Desta vez tudo indicava que o regresso fosse definitivo. Puro engano..

O Verão está aí uma vez mais, as praias enchem-se de banhistas mas os carris, este ano, continuam desoladoramente vazios. Os sintrenses estranharam e perguntavam-se sobre a razão dessa ausência. A resposta chegou agora através do Jornal da Região. Ficámos a saber que o eléctrico não está a circular actualmente porque, imaginem, alguém roubou cerca de 400 metros de cabo de cobre da catenária entre a Ribeira de Sintra e a Ponte Redonda. Nada que nos surpreenda dado que há poucos anos ainda, até um chafariz  foi roubado no centro da nossa vila.    

Segundo o Jornal da Região apurou junto do Dr. Marco Almeida, vice-presidente da Câmara Municipal, prevê-se que o eléctrico volte a circular no final deste mês de Julho. Esperamos que, quando esta edição do nosso jornal chegar às mãos dos nossos leitores jáo  possamos ver de novo apinhado de passageiros a percorrer pachorrentamente o percurso que conduz até à praia.  

Mas…tem que haver sempre um mas neste país, há no entanto uma situação a ensombrar essa esperança. Segundo ainda o Jornal da Região foi lançado pela Câmara, um concurso para a execução de trabalhos de recuperação e conservação da via, obras indispensáveis para que a circulação dos eléctricos se processe  com toda a segurança, mas, (cá está o inevitável mas), como neste país nada é fácil, uma das empresas concorrentes impugnou o resultado desse concurso. Sabendo nós como, em Portugal, estes assuntos se arrastam no tempo há razões para recear que o tão desejado regresso do eléctrico já não aconteça este Verão. E se calhar nem para o próximo. Estou a recordar-me da famosa impugnação das obras da pensão Bristol, que demorou anos a resolver. Espero não termos aqui uma segunda edição desse lamentável exemplo.

Depois de substituido o cobre roubado fica o receio que a gatunagem volte a atacar. Há que estar atentos e tomar as medidas necessárias para acautelar novos furtos, o que diga-se não será tarefa fácil, dado que a ladroagem é uma espécie infestante que está a alastrar  rapidamente. Enquanto não se tomarem medidas para punir exemplarmente a criminalidade ela continuará a aumentar e temo que para além de voltarem a roubar o cobre acabem por roubar também o próprio eléctrico. Com guarda-freio e tudo. Já faltou mais.


Guilherme Duarte

(Artigo publica num dos números do jornal Cruz Alta em 2013) 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

DOIS TEMAS NUM SÓ ARTIGO

O CENTRO DE SAÚDE

É do conhecimento geral que as instalações do Centro de Saúde de Sintra não reunem as condições mínimas exigíveis, de comodidade e de funcionalidade, quer para os utentes, quer para os médicos e pessoal de enfermagem, quer ainda para o pessoal administrativo.

Há anos que esta situação se vem arrastando sem que se vislumbre uma solução para breve nem haja sinais visíveis de que alguma coisa está a ser feita para dotar Sintra de um Centro de Saúde moderno e funcional como merece a sede do segundo maior concelho do país, que até é Património Mundial. Para além de ter de garantir os cuidados de saúde à população residente tem ainda que estar preparada para os prestar também aos turistas que deles venham a precisar, e são muitos milhares os turistas que visitam Sintra todos os meses. Uns e outros merecem condições de atendimento com dignidade.

Porque, pelo andar da carruagem, ainda deverão passar muitos anos antes que seja construído um novo Centro de Saúde em Sintra, talvez não fosse má ideia ir pensando já numa solução provisória que amenize as insuficiências actuais. Em conversa com alguns profissionais de saúde a trabalhar em Sintra, houve quem defendesse a ideia de se aproveitar as antigas instalações da central leiteira na Portela de Sintra para aí instalar o Centro, ainda que provisóriamente.  É um edifício amplo, actualmente abandonado e que dispõe de um espaço envolvente apreciável, que com as indispensáveis obras de adaptação poderia servir perfeitamente para que os serviços ali funcionassem com muito melhores condições do que actualmente. Manter o actual estado de coisas é que me parece, no mínimo, intolerável.


O LIXO

Existe uma grave incompatibilidade entre a imundície e o turismo. Centros históricos classificados como património da humanidade, imundos e mal cheirosos, não conheço nenhum a não ser em Sintra.

Lixo espalhado pelo chão junto aos contentores, umas vezes por estarem cheios, outras por falta de civismo de algumas pessoas, não é um bom cartão de visita para a nossa terra. Paredes meias com a igreja de S. Martinho, considerada património nacional, bem perto do posto de turismo e no local da paragem onde os turistas esperam o autocarro que os levará até à Pena e ao Castelo dos Mouros a imundície e o mau cheiro agridem a vista e o olfacto de quem por ali passa. Como sintrense sinto-me envergonhado com esta situação e com os comentários pouco simpáticos que tenho ouvido da boca de quem nos visita. Eu, como disse, tenho vergonha, e quem mais?



Guilherme Duarte

(Artigo publicado há tempo no jornal Cruz Alta)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

QUANDO AS FONTES SE CALAM

QUANDO AS FONTES SE CALAM

A água é uma das muitas riquezas que Sintra sempre teve para oferecer a moradores e visitantes. Água pura, fresca e cristalina que para além de matar a sede aos sequiosos ainda embala com o seu sussurrar constante o romantismo e o romance que se adivinham e respiram em cada cantinho deste pedaço de paraíso, este Éden terreno que Deus fez questão de oferecer para usufruto do homem e para felicidade de todos aqueles que tiveram o privilégio de aqui nascer.
Em tempos, quando, com menos idade, com mais saúde e outra disposição me dedicava mais empenhadamente à fotografia, fiz um roteiro fotográfico que intitulei “Sintra - Na Rota da Água”. Calcorreei ruas e becos, percorri trilhos, trepei rochedos e pulei ravinas sempre com os ouvidos bem atentos ao canto das águas. Explorei recantos para mim até então desconhecidos, descobri e fotografei fontes, chafarizes, cascatas, riachos e lagoas e descobri a riqueza das águas de Sintra, uma riqueza bem mais valiosa do que aquela que eu pensei ir encontrar. Sabia que havia muita e boa água em Sintra mas ignorava que fosse tanta e rodeada de tanta beleza e tanta história.
Hoje é com tristeza, e com alguma revolta, que passo por algumas das nossas fontes mais emblemáticas e só “ouço” o silêncio. Um silêncio que dói. Das bicas, de onde outrora jorrava  água em abundância não corre agora uma gota que seja. As fontes calaram-se. Perderam a “voz”. Essas fontes, para além de não dessedentarem ninguém deixaram também de embalar o romance. Estão secas e degradadas e se nada for feito caminham para o fim.
Muitas das fontes sintrense, por muito modestas que algumas delas sejam guardam uma história que a maioria dos sintrenses desconhece. Decidi, agora que a idade já não me permite trepar a penhascos ou saltar ravinas vou refugiar-me na biblioteca, no sossego da Sintriana e fazer uma recolha, o mais fiel e completa possível, dessas histórias passadas que ligam as fontes a reis e rainhas, amantes e ladrões.
Uma das fontes mais bonitas da vila de Sintra, a fonte dos Pizões que é uma bonita peça arquitectónica se assim se pode dizer, é uma das que se encontra completamente seca. Situada num dos locais nobres e mais visitados de Sintra, paredes meias com a Quinta da Regaleira e a caminho dos Seteais é triste ver que da sua bica já não brota aquela água fresca, leve e retemperadora que ali corria outrora. Há anos que vou ouvindo alusões a presumíveis desvios de água por parte de proprietários de algumas quintas onde se encontram as minas. Há também quem afirme que essas minas não são devidamente limpas e as canalizações que conduzem o precioso líquido até às fontes estarão deterioradas e que a água se perde pelo caminho. Não sei se será verdade ou se as minas pura e simplesmente terão secado. Eu não sei, mas penso que os serviços camarários que têm a seu cargo estes equipamentos de interesse público podem e devem saber e têm a obrigação de tomar as medidas necessárias para que a água volte a correr em todas as velhinhas e históricas fontes sintrenses. 
Que corra água em abundância em cada bica da nossa terra para que os sequiosos se possam dessedentar e o romance volte a ser embalado pelo seu canto suave e contínuo.


Guilherme Duarte 

A SINTRA QUE OS JOVENS DESCONHECEM

          
Quando a idade avança e os horizontes se encurtam ficamos mais sujeitos a ataques de saudosismo e então optamos, invariavelmente, para olhar para o passado onde o horizonte é bem mais vasto que aquele que temos pela frente. Sabemos que o caminho já percorrido foi muito mais longo do que aquele que nos falta percorrer. Perante essa constatação ficamos nostálgicos a recordar o passado que agora, à distância de várias décadas, vemos em tons cor de rosa esquecendo possíveis momentos mais complicados que eventualmente possamos ter vivido. Quando visitamos o passado não resistimos à tentação de fazermos comparações com o momento presente e invariavelmente chegamos à conclusão que nesses tempos já distantes era tudo bem melhor. Poucos de nós, os mais idosos, ou se preferirem, os mais experientes e talvez mais sábios, resistem a esta tentação. Eu sou um desses nostálgicos saudosistas dos tempos idos. Que fique bem claro que não estou a falar de política porque essa missão eu deixo para aqueles que não percebem patavina do assunto mas que vivem  “à grande e à francesa” à custa dela, que o mesmo é dizer, à nossa custa.

 Este mês, porque me sinto desiludido, direi mesmo que zangado e descrente com o caminho que os homens tomaram e com o comportamento egoísta e desumano que caracteriza a sociedade actual decidi virar as costas a toda a porcaria que me rodeia e olhar para o passado. O comentário deste mês terá um cariz diferente do habitual, irei falar de saudade  mas de uma coisa eu não abdico, falar também de  Sintra, só que desta vez duma Sintra insuspeitada pelos mais novos, uma Sintra que existiu e que “os rapazes” e “raparigas” da minha idade teimam em não esquecer. Uma Sintra que infelizmente não existe mais. Hoje quero recordar a Sintra que num dia frio de Janeiro me viu nascer, que embalou a minha infância e que alimentou os meus sonhos de adolescente. ,A Sintra que não é a mesma que agora assiste e ampara o meu rápido envelhecimento. Nós sintrense dizemos frequentemente que Sintra parou no tempo, não evoluiu e que nada mudou de então para cá. Não é verdade Sintra mudou sim senhor e nem sempre para melhor. Senão vejamos:

Há várias décadas atrás Sintra era uma vila pacata onde todas as pessoas se conheciam pelos nomes e se saudavam quando se cruzavam nas ruas. Não havia nesse tempo congestionamentos de trânsito para nos pôr os nervos em franja porque o automóvel não estava acessível à esmagadora maioria da população. Nas estradas circulavam carroças e burros em que os saloios transportavam os produtos da sua lavra que vinham vender à vila. No Natal eram também os vendedores de perus que os conduziam em grupos numerosos pelas estrada e caminhos de Sintra,  perus esses que iriam ser sacrificados para enriquecer a ceia de Natal das famílias sintrenses. No que respeita ao carnaval, nessa época começava no início de Janeiro, logo a seguir à quadra natalícia, quando começavam a aparecer nas mãos do jovens foliões as bisnagas, saquinhos com serradura, rabinhos, bombas de rabiar, estalinhos e frasquinhos mau cheiro. Ninguém se ofendia e todos aceitavam a brincadeira com boa disposição. Havia cegadas a percorrer as ruas a satirizar tudo e todos, bailes de máscaras nas colectividades e teatros carnavalescos bem divertidos. No que se refere à actividade comercial pode parecer impossível hoje, mas não havia nesse tempo estabelecimentos fechados em Sintra, o comércio estava bem vivo e de boa saúde. Havia lojas de todos os ramos. Padarias, (só na Estefânea eram três no espaço de 100 metros), sapatarias, várias mercearias, tabernas eram mais que muitas, barbeiros, cabeleireiros, lojas de móveis e de alugueres de bicicletas, lojas de solas e cabedais, alfaiates e sapateiros, talhos, lojas de pronto a vestir, drogarias e  ferragens, cafés, pastelarias, pensões e estalagens, papelarias, peixaria, lugares de frutas e hortaliças, farmácias, papelarias,  lojas de brinquedos, e tantos outros estabelecimentos que cobriam todas as necessidades de consumo dos sintrenses. Havia duas salas de cinema e até existia um casino a funcionar, onde se viveram ali noites glamourosas. Os cafés estavam abertos até tarde e ninguém arredava pé antes acabar o programa de televisão e as soirées nos cinemas. Havia nessa época vida nas noites de Sintra.

Recordo com saudade os cheiros que emanavam das fábricas de bolos e queijadas, do pão quente das padarias, da moagem do café nos armazéns do Baeta, e o aroma bom do café moído na ocasião na pastelaria Ideal, sempre que um cliente ali ia comprar 250 gramas ou meio-quilo de café que as disponibilidades financeiras não permitiam mais. Escolas primárias eram quatro, a do Morais e do Rodas na Estefânia e duas em S. Pedro de Penaferrim.

Tenho pena que o eléctrico não vá actualmente até à Vila Velha como antigamente. Até a chiadeira provocada pela fricção do rodado nos carris no centro da Estefânia a na Volta do Duche me soa a esta distância como uma agradável sinfonia. No centro histórico existiam nada menos que quatro hotéis todos eles carregados de história, o Hotel Costa hoje o posto de turismo de Sintra, o Hotel Central, agora a funcionar apenas como café e restaurante, o Hotel Nunes, onde se encontra instalado o Tivoli Sintra, e o ultimamente tão badalado Hotel Neto cujas ruínas emporcalham a zona histórica de Sintra, ali paredes meias com o Palácio Nacional. Uma palavra ainda para o comboio com as suas velhinhas carruagens puxadas por enormes e assustadoras locomotivas a vapor, negras e fumegantes. Já vai longa este rol de saudades mas não posso terminá-la sem referir o estado de conservação dos edifícios. Não havia nesse tempo casas em ruínas. Todas elas se encontravam bem conservadas e habitadas, havia roupa a secar nas janelas e das chaminés saía fumo sempre que se aproximava a hora de preparar as refeições. Ouviam-se os risos das crianças. Todas as casas palpitavam vida.

É impossível não fazer comparações entre a Sintra desse tempo e a Sintra dos nossos dias. O balanço final entre o que melhorou e o que se perdeu, penso que o resultado é negativo. Dou como exemplo os edifícios em ruínas espalhadas um pouco por toda a vila de Sintra. Isto para não falar já na marginalidade que aumentou assustadoramente e a desumanização das pessoas. Hoje quase ninguém se conhece nem se saúda. Há mais população mas menos convívio e menos solidariedade. Haveria ainda muito mais a dizer mas já vai longa a conversa.  

Ora digam lá se esses eram ou não os bons velhos tempos? Para muitos não serão mas são-no para mim que estou velho e numa fase aguda de saudosismo. Não será possível poder recuar algumas décadas atrás para podermos ter a nossa velha Sintra de volta?

Guilherme Duarte


( Este texto está escrito de acordo com a ortografia antiga). 

A PSML PREMIADA INTERNACIONALMENTE

O PRÉMIO “WORLD TRAVEL AWARD” PARA A MELHOR EMPRESA DO MUNDO EM CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO FOI ATRIBUIDO À EMPRESA “PARQUES DE SINTRA – MONTE DA LUA”

É verdade. A PSML foi recentemente distinguida e premiada como a MELHOR EMPRESA DO MUNDO na área da conservação de património. Esta distinção para além de dignificar Sintra premeia principalmente o magnífico trabalho que ao longo dos anos tem vindo a ser desenvolvido por esta empresa. Estão de parabéns os seus administradores, muito especialmente o seu presidente, Engº António Lamas, e toda a equipa de colaboradores que não regateia esforços e se esmera para realizar um trabalho de reconhecida excelência. Quem viu há uns anos atrás o estado de degradação em que se encontravam os monumentos em Sintra e os parques que lhe estão adjacentes e quem os vê agora, dificilmente acreditará que está a ver os mesmos locais. Olhada inicialmente com alguma desconfiança pela população local a PSML rapidamente impôs a qualidade do seu trabalho ganhando a confiança e o aplauso dos sintrenses. Hoje a PSML é uma empresa respeitada e prestigiada que acabou de ver a sua competência distinguida como a melhor empresa do mundo na sua área. Todos nós, sintrenses e os que não sendo naturais de Sintra se apaixonaram por esta terra mágica e maravilhosa nos sentimos particularmente orgulhosos com estre prémio. Como todos sabemos o sucesso tem duas faces e apara além do aplauso gera também algumas invejas porque há  sempre quem encare o êxito alheio como a confirmação do seu fracasso e ineficácia, por isso é natural que a PSML também tenha os seus detractores e “inimigos”. Por exemplo estranhamos muito que a Câmara Municipal de Sintra, detentora, ao que julgo saber, de 15% do capital dessa empresa, ao contrário de se congratular com o sucesso e o extraordinário trabalho feito pela PSML nos monumentos e parques sob a sua jurisdição, segundo notícias vindas a público, tomou uma decisão que nos faz pensar que possa existir uns laivos de hostilidade em relação à dita empresa. Mas quero acreditar que será apenas impressão nossa.
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Se os nossos leitores bem se recordam registei nesta coluna há dois meses atrás, com enorme alegria, a notícia que a empresa Monte da Lua tinha chegado a acordo com os proprietários das ruínas do antigo Hotel Neto para adquirir o imóvel e proceder à sua requalificação, pondo assim termo a várias décadas de degradação progressiva que constituía uma vergonhosa  nódoa a manchar o centro histórico, paredes meias com o Palácio Nacional. Para que o negócio se concretizasse faltava apenas a autorização dos organismos competentes que têm que se pronunciar nestes casos. Quando tudo indicava que finalmente as ruínas do histórico edifício teriam o seu fim anunciado e que em breve não passariam a ser mais do que uma desagradável recordação eis que o executivo camarário surpreendeu tudo e todos ao decidir accionar o direito de opção de compra que detinha sobre uma futura venda daquele edifício inviabilizando assim à empresa Monte da Lua a possibilidade de adquirir o velho hotel e proceder à sua recuperação. Até agora temos esperado uma explicação pública da Câmara a sobre as razões que a levaram a tomar esta tão inesperada como polémica decisão. Conhecida que é a incapacidade da autarquia em responder em tempo útil à crescente degradação do património sintrense não temos qualquer razão para pensar que agora tudo será diferente.. Estranhamente parece ter sido esta a forma que o executivo camarário encontrou para agradecer À MELHOR EMPRESA DO MUNDO NA ÁREA DA CONSERVAÇÃO DE PATRIMÓNIO pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver em Sintra, pelo importante prémio conquistado e por, mais uma vez, ter prestigiado a nossa terra?

Estou curioso para saber o que se vai seguir. Se o PSML oferecia todas as garantias que os trabalhos de recuperação do Hotel Neto se iriam concretizar com a rapidez e qualidade habituais em todas as iniciativas da empresa agora preterida, já tenho sérias dúvidas sobre o futuro dessa recuperação agora nas mãos da Câmara que tem muito para fazer em várias frentes e tem um imenso património para recuperar a começar pelos edifícios degradados na Volta do Duche que oferece aos visitantes um espectáculo indecoroso. Poderia enunciar aqui uma lista extensa de situações que requerem a intervenção urgente da Câmara mas ficará para uma próxima ocasião. Entretanto deixo aqui um apelo. Deixem, a empresa Parques de Sintra Monte da Lua trabalhar como tão bem sabe fazer. Sintra só tem a ganhar com isso e os sintrenses agradecem.



Guilherme Duarte

LENDA DO TÚMULO DOS DOIS IRMÃOS

"É conhecida esta sepultura pela denominação de Sepultura de Dois Irmãos, nome que já tinha no século XV, como consta de um instrumento daquela época.

Dizem os naturais que, o que dera origem a esta denominação fora a tradição que entre eles corre antiga de pais e filhos que passo a descrever como a ouvi a um velho de noventa anos todo inebriado da sua veracidade:
Dois irmãos traziam amores por uma donzela que por aqueles sítios habitava, ignorando ambos os amores um do outro. Acontecendo por uma triste fatalidade encontrarem-se os dois irmãos, em uma noite tenebrosa, debaixo do balcão do objecto que tão enfeitiçados os trazia, um deles, persuadido que o outro lhe disputava os favores da sua dama, corre cego e inconsiderado sobre ele, e o estende morto a seus pés, vítima de um frenético ciúme. Porém, qual é a sua desesperação, quando pela voz moribunda daquele que julga seu rival, reconhece Ter sido assassino do seu próprio irmão, que muito amava e lhe expira nos braços!

Cheio de desespero, volta contra o peito o ferro fratricida, e a cai morto sobre o cadáver ensanguentado do irmão, preferindo uma morte pronta, a uma vida inconsolável, cheia de remorsos."


Do livro “Cintra Pinturesca” de autoria do Visconde de Jerumenha, (1839)